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País torna-se o primeiro a ignorar sessão onde teria seu
próprio desempenho avaliado
GENEBRA - Em pauta, estava nesta terça-feira a Revisão Periódica Universal (RPU), um levantamento rotineiro da situação dos direitos humanos em cada um dos países-membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O avaliado da vez seria Israel. Mas a delegação israelense faltou à sessão. E o país transformou-se no primeiro país a boicotar a própria avaliação no conselho - algo que sequer Síria ou Coreia do Norte, com pesados históricos de violações, ousaram fazer.
S. I. R. C. C. E. C.
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O boicote é apenas mais uma baixa num cada vez mais
desgastado relacionamento entre Israel e as Nações Unidas. A última avaliação
ocorrera em dezembro de 2008, com a presença do representante de Israel. E
entre diversos embates e protestos diplomáticos acerca do que os israelenses
classificam como “votações tendenciosas” a favor dos palestinos em diversas
instâncias das Nações Unidas, em maio do ano passado, o país suspendeu a
cooperação com o Conselho de Direitos Humanos devido à decisão de investigar a
construção de novos assentamentos na Cisjordânia. Ontem, porém, até os Estados
Unidos criticaram a ausência israelense ao exaltar “o grande valor que
Washington dá pelo modo com o qual todos os países são avaliados em direitos
humanos”.
- A RPU tem sido um mecanismo valioso tanto por ser
aplicado universalmente a todos os países-membros da ONU em condições iguais
como por ser conduzido em cooperação e de maneira colaborativa - afirmou a
embaixadora americana no conselho, Eileen Chamberlain Donahoe, evitando
mencionar diretamente o nome do aliado.
Em Jerusalém, o Ministério das Relações Exteriores,
minimizou o episódio. Segundo o porta-voz da Chancelaria, Yigal Palmor, seu
país “já havia anunciado a suspensão do trabalho no Conselho de Direitos
Humanos da ONU por tempo indeterminado”.
- Esta política não mudou - declarou.
A RPU sobre Israel seria dedicada principalmente aos
efeitos da política de colonização dos territórios palestinos. O boicote, além
de inédito, foi considerado uma ousadia. E os 47 países presentes ao fórum
adotaram uma moção lamentando a ausência e instando Israel a cooperar numa nova
revisão a ser realizada entre outubro e novembro “no máximo”.
- Trata-se de uma questão importante e uma situação sem
precedentes - disse o presidente do conselho, o polonês Remigiusz Henczel.
Os países muçulmanos tampouco pouparam críticas à
ausência. E atacaram também a complacência diante da necessidade de Israel
cumprir suas obrigações internacionais.
- Nós imaginamos se esse espírito cooperativo seria
estendido a outros países não tão próximos de algumas das maiores potências do
mundo - provocou o embaixador paquistanês, Zamir Akram, falando em nome da
Organização da Cooperação Islâmica (OCI).
Diplomatas temem que o boicote abra precedentes. Afinal,
a presença na revisão periódica é considerada obrigatória.
- Isso nos deixa em um novo território - disse o
porta-voz do conselho, Rolando Gomez.
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