“O
Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi a primeira
vez que isso aconteceu, em 22 anos.”
“A
Síria reconquistou a própria independência. O mais provável é que, em 2014,
Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República Árabe Síria. A história
síria o recordará para sempre, como governante civilizado e herói do seu povo.”
“O
povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra
que o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente. Que todos os
norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra
inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se. Os
norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra.”
Em 2006 os EUA estavam em
guerra no Iraque. Muitas das forças inimigas contra as quais os EUA lutavam
furiosamente chegavam ao Iraque através da Síria. No mesmo ano o Hizbollah
derrotou Israel, que invadira o Líbano. As forças armadas de Israel eram
emboscadas cada vez que tentavam penetrar no Líbano, enquanto o Hizbollah usava
foguetes contra as posições do exército israelense e nas cidades. O Hizbollah
recebia apoio e suporte da Síria e do Irã, que chegavam através da Síria. Os
planos de longo prazo dos EUA e Irã, para manter a supremacia no Oriente Médio
dependiam de interromper as vias de abastecimento para o Hizbollah.
Os
países sunitas sectários do Golpe, viram seus sunitas serem derrotados no
Iraque, e um governo xiita, apoiado pelo Irã assumir no Iraque. Todos esses
países tinham motivos para tentar atacar a Síria. E também havia razões
econômicas, que tornavam necessário derrubar uma Síria independente. Um
gasoduto, do Qatar à Turquia, competia com outro, do Irã à Síria. Grandes
reservas de gás natural descobertas nas águas de Israel e Líbano, faziam
aumentar muito a possibilidade de que também houvesse gás em águas nacionais
sírias.
No
final de 2006, os EUA começaram a financiar uma oposição externa ao partido
Baath, que governava a Síria. [1] Aqueles opositores eram na maioria exilados
da Fraternidade Muçulmana expulsos da Síria depois que fracassaram várias
tentativas de golpe de Estado, entre 1976 e 1982. Em 2007, EUA, Israel e Arábia
Saudita construíram um plano para “mudança de regime” na Síria. O objetivo do
plano era destruir a aliança da “resistência” entre o Hizbollah, Síria e Irã:
“Para minar o Irã,
predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas
prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperara com o governo da
Arábia Saudita, que é sunita, em operações clandestinas que visam a minar o
Hezbollah, organização de xiitas apoiada pelo Irã. Os EUA também tomaram parte
em operações clandestinas contra o Irã e seu aliado, a Síria. Resultado
colateral dessas atividades foi provocar a radicalização de grupos sunitas
extremistas, que têm uma visão militante do Islã e são hostis aos EUA e
simpáticos à Al-Qaeda.” [2]
Em 2011,
três anos de seca, provocada pelo aquecimento global e pela Turquia, que
construiu barragens e gigantescos projetos de irrigação na região, haviam
enfraquecido a economia síria. Grandes populações, das áreas rurais mais
pobres, perderam seus meios de sobrevivência e acorreram às cidades. Esses
fatores criaram o terreno fértil a partir do qual lançar um golpe contra o
estado sírio.
A
parte que coube aos EUA naquele plano foi garantir cobertura “midiática” e o
necessário “clima de opinião”, na opinião pública global, para viabilizar o
golpe. Para isso, os EUA usaram as ferramentas que conhecem bem, de criar
“revoluções coloridas”. “Jornalistas cidadãos” foram recrutados, treinados e
armados com o necessário equipamento de vídeo e comunicações bem conhecidos da
“mídia comercial” de propaganda, em todo o mundo. Outros foram treinados para
organizar “manifestações civis pacíficas”. Os sauditas encarregaram-se da parte
mais tenebrosa do plano: financiaram e armaram grupos rebeldes, muitos deles
associados à exilada Fraternidade Muçulmana, com a tarefa de instigar movimento
mais amplo e atacar forças do estado sírio, além de atacarem também
manifestantes civis pacíficos.
Uma
manifestação local em Deraa, perto da fronteira da Jordânia, foi usada para
iniciar o golpe. Manifestações começaram pacíficas, mas logo começaram os
ataques à bala contra manifestantes e contra a polícia. Inevitavelmente, os
dois lados escalaram. Grupos armados pelos sauditas passaram a atirar
consistentemente contra soldados do estado sírio. Com colegas mortos e feridos,
as forças do exército sírio retaliaram contra os manifestantes. Grupos de
manifestantes armaram-se, eles também, para enfrentar o exército sírio.
Os
“cidadãos jornalistas” entraram em cena, com propaganda de que só haveria vítimas
entre os “manifestantes pacíficos” e jamais noticiaram o número de vítimas
entre os soldados sírios. As agências “ocidentais” de noticiário integraram-se
ao esquema. Ativaram-se células já organizadas em outras cidades da Síria. Mais
uma vez, a expressão “manifestantes pacíficos” foi apresentada como cobertura
para “uma terceira força”, como disse a comissão de investigação da Liga Árabe,
que lutava contra as forças do governo sírio e também instigava os
manifestantes a armarem-se.
O
governo dos EUA ajudou com sua própria campanha de propaganda; por exemplo,
quando mentiu [3] sobre ataques da artilharia síria contra manifestantes – que
não haviam acontecido.
Organizações
para-governamentais norte-americanas, como Avaaz, Anistia Internacional e Human
Rights Watch, uniram-se à campanha contra o governo sírio. E a ciberguerra,
movida contra agências noticiosas sírias, suprimiu completamente o outro lado
da história. Até hoje, a Agência Sírio-Árabe de Notícias [orig. Syrian Arab
News Agency,sana.sy]
continua expurgada dos resultados [talvez só nos EUA. No Brasil, encontra-se o
que se vê em aqui, às 19h04,
14/9/2013] se se procura em Google [talvez só nos EUA. No Brasil, encontramos
facilmente o que se vê em aqui,
às 19h03, 14/9/2013 (NTs)].
Rapidamente
se tornou visível que a estratégia concebida para criar uma “revolução
colorida” não funcionara.
O
estado sírio mostrou-se capaz de resistir do que parecia. O presidente sírio
Bashar al-Assad era mais respeitado e querido pelos sírios do que os
instigadores do golpe haviam suposto. E o presidente atendeu rapidamente várias
das demandas dos manifestantes autênticos. A Constituição síria for reformada,
criaram-se novos partidos, houve eleições e as forças de segurança mais violentas
e abusivas foram contidas, postas sob controle estrito. As grandes cidades,
mesmo aquelas nas quais a maioria era de sunitas, não apoiaram nem se uniram à
violência crescente dos milicianos sectários. As deserções do exército sírio e
de quadros políticos foram poucas e sem importância. Durante algum tempo, até a
economia conseguiu resultados bastante satisfatórios.
Os
inimigos da Síria tiveram de aumentar o “envolvimento”. Arábia Saudita e Qatar
usaram todas as suas capacidades para recrutar jihadis de outros países
dispostos a lutar na Síria. A CIA, alimentada com dinheiro saudita, enviou para
lá toneladas de armas e munição, recolhida de seus arsenais pelo mundo. Grupos
terroristas foram criados, com treinamento e inteligência de combate. E
criou-se um grupo de exilados, para começar a ser apresentado ao mundo como
futuro governo possível para a Síria.
O
governo sírio foi forçado a recolher-se, para preservar seus soldados. Grandes
porções da Síria rural foram tomadas pelos grupos terroristas. A população
dessas áreas fugiu pelas fronteiras ou para as cidades maiores. Nas áreas
urbanas onde os terroristas se acastelaram, tornou-se difícil desalojá-los sem
causar vasto dano aos prédios e à infraestrutura. Mas o governo sírio, dessa
vez, já sabia o que fazer. Com a ajuda de aliados, unidades armadas do Irã,
unidades armadas do Hizbollah foram retreinadas para guerra contra grupos
terroristas insurgentes. E criaram-se unidades paramilitares locais, para
reocupar as áreas das quais o exército já desalojara os terroristas. A Rússia
cuidou de manter o suprimento de artigos necessários à sobrevivência dos civis
e armamento para as forças do exército sírio.
Do
lado dos instigadores do golpe as coisas começaram a dar errado. Os Jihadis
providenciados pela Arábia Saudita mostraram combatentes eficientes, mas
fanáticos religiosos, e não encontraram espaço no contexto social da Síria – de
governo laico e sociedade multirreligiosa liberal inclusiva. Começaram os
confrontos com a população, e com combatentes locais pró-Assad. Ainda hoje
chegaram notícias de luta violenta no nordeste da Síria, entre terroristas
jihadistas e bandidos locais. [4]
Questões
sobre suprimentos de armas a serem recebidas da Líbia, entre os EUA e grupos da
Al-Qaeda, mataram o embaixador dos EUA em Benghazi.
Apesar
de ter sido “reformatado” pelo menos três vezes, o planejado grupo para um
governo no exílio mostrou-se inefetivo, dadas as disputas internas entre os
vários grupos entre si e entre seus patrocinadores. A campanha de imprensa
sobre “manifestantes pacíficos” começou a fazer água, à medida que mais e mais
imagens e histórias emergiam, mostrando massacres cometidos pelos grupos
golpistas, contra soldados sírios. A população nos países que inicialmente
apoiara o que supunha ser um levante democrático mudou de opinião, e passou a
opor-se a qualquer envolvimento naquele conflito.
Quando
se tornou mais evidente que os golpistas não conseguiriam derrotar o exército
sírio, o presidente Barack Obama dos EUA apareceu com sua “linha vermelha”
sobre o uso de armas químicas. Foi como um convite aos golpistas, para que
usassem armas químicas no cenário da guerra, para em seguida culpar o governo
sírio. Assim se criaria a necessidade, dado o que dissera o presidente, de os
EUA intervirem militarmente, ao lado dos jihadistas terroristas. Tentaram fazer
isso algumas vezes, mas Obama não deu sinal de disposição para usar a força.
Para tentar impedir que, no caso de os terroristas conseguirem tomar o governo
sírio, eles assumissem o poder, os EUA alteraram o plano: agora, haveria
terroristas “moderados”, treinados pelos EUA, que assumiriam o controle dos
combates, sobretudo em torno da capital Damasco.
Em
meados de agosto de 2013, um grupo de 300 combatentes treinados pela CIA
entraram na Síria pela Jordânia. [5] (Hoje, o governo Obama está tentando
alterar essa data. [6])
A
tarefa deles era ir até Damasco e assumir, eles mesmos, a luta contra o governo
sírio. Foram impedidos. Pararam, sem conseguir avançar mais, a caminho de um
subúrbio de Damasco. Sem o apoio aéreo dos EUA, como havia acontecido na Líbia,
o uso de forças especiais treinadas pelos EUA revelou-se inútil. Foi ativado
então o plano “linha vermelha”.
Dia
21 de agosto, algum produto químico venenoso foi liberado no ar em alguns
subúrbios de Damasco. Instantaneamente surgiram pelo canal YouTube enorme
quantidade de vídeos em que se viam cadáveres enfileirados de supostas vítimas
de ataque “químico”. Mas os vídeos não indicavam nenhum dos sintomas corretos
de vítimas de exposição ao gás sarin, nem os atingidos que se via estavam
recebendo os cuidados médicos de protocolo para o caso de ataque real com armas
químicas. Tudo era falso. A conclusão de que se tratava de falsa operação
“armada” para inculpar o governo Assad correu o mundo. [7]
Mas
Obama ainda tentou convencer o mundo de que o governo sírio usara armas
químicas, e insistiu em distribuir fiapos de evidências, mas, de fato, não
exibiu qualquer prova. E convocou aliados para que se unissem a ele numa
intervenção militar.
O
Parlamento britânico votou e decidiu que não. O povo britânico, como o povo
norte-americano já não tem estômago para mais guerras. Obama viu-se preso num
“ardil 22”: [8] podia ir à guerra sem consultar o Congresso; nesse caso, corria
o risco de ser tirado da presidência por impeachment, de uma Câmara de
Representantes muito hostil; ou pedia autorização ao Congresso para ir à
guerra. Em pouco tempo Obama desceu da posição de “faço a guerra sozinho” [9] e
pediu autorização ao Congresso. O povo dos EUA já era amplamente contrário a mais
uma guerra no Oriente Médio, e os militares também. [10] Pressionados pelos
eleitores, e ante o fato de que não havia prova alguma do tal “massacre”, o
Congresso negou a licença para matar que Obama lhe pedira.
O
Congresso dos EUA desobedeceu ao AIPAC e ao lobby israelense. Foi a primeira
vez que isso aconteceu, em 22 anos.
Obama
tem agenda urgente a cuidar, no plano doméstico. Há o Obama-care, o orçamento,
e disputa já iminente pelo teto da dívida. Depois de perder a guerra no
Congresso, Obama não poderia, baseado só em pressupostos poderes presidenciais,
ir à guerra. Os riscos eram altos demais: ou um impeachment imediato, ou status
de pato manco até o final do mandato. O que fazer?
Foi
quando o cavaleiro russo, Vladimir Putin, acorreu em socorro de Obama.
Putin
ofereceu um negócio: a Síria aceitaria entregar armas não convencionais; e os
EUA aceitariam que o governo sírio e o presidente Assad permanecessem no poder.
Não é ideia nova: apareceu há um ano, em agosto de 2012, quando o ex-senador
Richard Lugar propôs exatamente isso, em Moscou. [11]
As
armas químicas sírias são praticamente inúteis, no campo tático. Mas podem ser
usadas contra centros de população israelenses – e têm, por isso, importante
poder dissuasório e de contenção, contra a violência de Israel. Mas nas atuais
circunstâncias converteram-se em risco a evitar. Ao mesmo tempo, os mísseis
convencionais do Hizbollah já se comprovaram muito efetivos, como força de
contenção; e não implicam os mesmos problemas associados às armas não
convencionais. A Síria pode, com segurança, entregar parte de seu armamento de
contenção dissuasória. E confia que seus aliados Irã e Rússia providenciarão
substitutos efetivos, se necessário.
Obama
agarrou-se à boia que Putin lançou para ele. Sabia que entrar abertamente em
guerra contra oponente bem preparado [12] e aliados significaria guerra longa e
incerta. Metera-se em situação de perde-perde, mas agora voltava a ainda
parecer vencedor. Resgatou Israel de uma situação em que estava ameaçada por
bombas de gás e ainda arranjou a alguma coisinha para fazer trotar seu
cavalinho de batalha premiado – o desarmamento de armas de destruição em massa.
Hoje,
os ministros de Relações Exteriores da Federação Russa e dos EUA assinaram umas
“Linhas Gerais para a Eliminação das Armas Químicas Sírias” [orig. Framework
for Elimination of Syrian Chemical Weapons]. [13] Exige-se que, sendo possível,
todas as armas químicas sírias estejam eliminadas até meados de 2014.
O
documento nada diz sobre o futuro do governo Assad. Mas a Rússia com certeza já
providenciou para dar e obter as necessárias garantias. Nem a Síria teria
entregado suas armas sem negociação precisa e suficiente.
A
Rússia, tanto quanto a Síria, sabe que Obama tem de manter a imagem, e ninguém
falará sobre o real acordo firmado horas antes em Genebra. Agiram, aliás, como
Nikita Khrushchev, que manteve silêncio sobre seu acordo com Kennedy, sobre a
remoção dos mísseis nucleares norte-americanos da Turquia, depois da crise dos
mísseis em Cuba. À parte as garantias anunciadas, o cumprimento das garantias
de desarmamento, que pode demorar um pouco mais do que foi acordado hoje,
depende da sobrevivência do governo de Assad. Derrubar Assad é assunto que, por
hora, os russos proibiram.
Daqui
em diante, Obama começará, aos poucos, a reduzir o apoio aos terroristas na
Síria. Pressionará Israel, Arábia Saudita e Turquia para que façam o mesmo.
Quanto mais rapidamente a Síria promover a eliminação das armas químicas, mais
rapidamente Obama se recolherá. A imprensa-empresa nos EUA rapidamente
descobrirá a disputa pelo orçamento e o negócio da espionagem pela Agência de
Segurança Nacional dos EUA, que voltarão às manchetes. E, aos poucos, a opinião
pública dos EUA esquecerá que existe Síria.
A
oposição síria não está gostando do acordo e não deseja que dê certo. [14] O
Conselho Militar Sírio fará o possível para que dê errado. Mas logo perceberá
que ficou sem apoio político e sem dinheiro. Enquanto isso, as forças locais do
CMS combatem contra grupos aliados da al-Qaeda. É bem possível que alguns
grupos locais anti-Assad rapidamente se aliem ao exército sírio, contra os
terroristas jihadistas. O general Selim Idris talvez consiga algum emprego
burocrático de baixo escalão em Dubai ou no Qatar.
O
rei saudita odeia os ideólogos da al-Qaeda tanto quanto odeia a Fraternidade
Muçulmana e todos os persas. Concordará em pôr fim à guerra e atacará o bolso
dos que insistam em continuar a financiá-la.
O
príncipe Bandar, responsável por recrutar terroristas jihadistas, deu-se muito
mal (outra vez) e não fez o que foi pago para fazer, porque disse que
controlava mas não controlava seus jihadistas alugados. Pode ser mandado de
volta para o deserto bravio. Os estados do Golfo seguirão (terão de seguir) o
exemplo dos sauditas.
Em
Israel, Benjamin Netanyahu já viu que, essa, ele perdeu. A derrota do AIPAC no
Congresso já o informou disso. Embora esse round contra a Resistência não tenha
sido decisivo, é verdade que grande parte da Síria foi destruída e que o
arsenal estratégico sírio está, por hora, reduzido. Netanyahu também concordará
com o plano dos EUA de reduzir os latidos pró-guerra, mas exigirá alguma
“compensação” imerecida. É o que ele sempre faz, e Obama sempre cede.
O
premiê turco Erdogan tentará continuar a apoiar os jihadistas na Síria. É o
único estadista do planeta que o faz por razões ideológicas: Erdogan é crente
fiel. Mas tem também muitos problemas com outros vizinhos e a economia turca
movida a empréstimos externos está à beira de precipício profundo. Há sinais
vindos da Rússia e do Irã, de que pode haver algumas dificuldades técnicas,
motivadas pelo inverno, com os suprimentos de gás para a Turquia. Provavelmente
bastarão para induzir Erdogan a jogar a toalha. Há também gente dentro de seu
próprio partido, sobretudo empresários da Anatólia, que já não o aceitam como
líder. Podem usar a fraqueza política de Erdogan para trazer outro ator para o
palco.
Sem
apoio e sem qualquer possibilidade de vencer a luta, a parte síria da oposição
que se armou provavelmente deporá armas e tentará algum acordo de anistia com o
governo. Os quadros estrangeiros da al-Qaeda continuarão a lutar. Mas têm
mínima base ideológica de apoio entre a população síria; e não têm qualquer chance
contra exército experiente e plenamente mecanizado. Haverá bloqueio contra seus
financiadores. Mas o terrorismo é duro de matar. É possível que, em breve, os
EUA ajudem a Síria, com inteligência ou drones, a combatê-los.
Claramente,
a Rússia é a grande vitoriosa estratégica na guerra à Síria. Está de volta ao
cenário do Oriente Médio, em condições de aí permanecer por algum tempo. Ganhou
por larga margem de pontos, a batalha pela opinião pública global. A Gazprom
ficará feliz se puder ajudar a Síria na prospecção e na extração de gás de suas
reservas oceânicas. Daí virão os fundos para reconstruir e rearmar a Síria. A
Gazprom pode também comprar gás do gasoduto Irã-Síria, vendê-lo à Europa e
reforçar seu monopólio por ali.
O
Irã reforçou seu papel estratégico e está hoje bem posicionado para negociar um
bom entendimento com os EUA, que pode pôr fim a 30 anos de hostilidades quentes
e frias. Investiu muito na Síria e mais gastará para ajudar a reconstruir o
país, mas o resultado estratégico – vitória do “eixo da Resistência” – vale bem
o que custou.
A
Síria e o povo sírio venceram a guerra e perderam muito. Serão precisos muitos
anos para reintegrar os refugiados, para reconstruir o país e esperar que
cicatrizem feridas profundas. Mas a Síria também reconquistou a própria
independência. O mais provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito
presidente da República Árabe Síria. A história síria o recordará para sempre,
como governante civilizado e herói do seu povo.
O
povo dos EUA, pela primeira vez em décadas, conseguiu fazer parar uma guerra
que o presidente desejava. Essa é vitória imensa e um precedente. Que todos os
norte-americanos lembrem bem desses dias, quando aparecer outra guerra
inventada, ou esse ou aquele país pequeno ou distante levantar-se. Os
norte-americanos, nós, temos os meios para fazer parar qualquer guerra.
Notas
[1] 18/4/2011, em http://www.cbc.ca/news/world/u-s-admits-funding-syrian-opposition-1.987112
[2] 5/3/2007, http://www.newyorker.com/reporting/2007/03/05/070305fa_fact_hersh
[3] 11/2/2012, http://www.moonofalabama.org/2012/02/lying-with-pictures.html
[4] 13/9/2013, http://www.huffingtonpost.com/2013/09/13/al-qaeda-rebels-syria_n_3921281.html?ncid=edlinkusaolp00000003
[5] 23/8/2013, http://www.jpost.com/Middle-East/Report-Syrian-rebel-forces-trained-by-West-are-moving-towards-Damascus-324033
[6] 12/9/2013, http://www.emptywheel.net/2013/09/12/cia-joins-obamas-dissembling-on-date-death-squads-sent-into-syria/
[7] http://www.moonofalabama.org/2013/08/syria-another-false-flag-chemical-weapon-attack.html
[8] Ardil 22 é título de um famoso romance-sátira da 2ª Guerra Mundial, lançado em 1961, depois, filme [http://www.cineclick.com.br/ardil-22]. O “ardil 22” é uma lei-armadilha pela qual os pilotos-personagens sempre acabavam obrigados a voar em missões de guerra: “Você pode se declarar louco, para não ser mandado voar a missão que eles inventam. Mas se eles perceberem que você não quer voar a missão, prova-se que você não está louco, e eles mandam você voar a missão” (mais sobre o livro, emhttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/347842/ardil-22-(catch-22) [NTs].
[9] De http://www.moonofalabama.org/2013/08/syria-obamas-climb-down.html: “Naquele momento, Obama só poderia ter uma de duas ideias na cabeça: ou (a) ele não quer guerra e espera que o Congresso o salve daquela estúpida “linha vermelha”, armadilha que ele mesmo inventou para si próprio e que foi a causa real da operação clandestina, falsa, no subúrbio de Damasco; ou (b) ele quer guerra e espera que o AIPAC, com seu descomunal lobby, ponha ordem no Congresso e lhe dê sua guerra, para benefício do sionismo universal.”
[10] http://www.militarytimes.com/interactive/article/20130911/NEWS/309110009
[11] http://www.mcclatchydc.com/2013/09/13/202119/obamas-shifting-stances-on-syria.html#.UjT5utK-pRI
[12] http://english.al-akhbar.com/content/syria-crisis-new-global-balance-making
[13] http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2013/09/214247.htm
[14] http://www.reuters.com/article/2013/09/14/us-syria-crisis-idUSBRE98A15720130914
[1] 18/4/2011, em http://www.cbc.ca/news/world/u-s-admits-funding-syrian-opposition-1.987112
[2] 5/3/2007, http://www.newyorker.com/reporting/2007/03/05/070305fa_fact_hersh
[3] 11/2/2012, http://www.moonofalabama.org/2012/02/lying-with-pictures.html
[4] 13/9/2013, http://www.huffingtonpost.com/2013/09/13/al-qaeda-rebels-syria_n_3921281.html?ncid=edlinkusaolp00000003
[5] 23/8/2013, http://www.jpost.com/Middle-East/Report-Syrian-rebel-forces-trained-by-West-are-moving-towards-Damascus-324033
[6] 12/9/2013, http://www.emptywheel.net/2013/09/12/cia-joins-obamas-dissembling-on-date-death-squads-sent-into-syria/
[7] http://www.moonofalabama.org/2013/08/syria-another-false-flag-chemical-weapon-attack.html
[8] Ardil 22 é título de um famoso romance-sátira da 2ª Guerra Mundial, lançado em 1961, depois, filme [http://www.cineclick.com.br/ardil-22]. O “ardil 22” é uma lei-armadilha pela qual os pilotos-personagens sempre acabavam obrigados a voar em missões de guerra: “Você pode se declarar louco, para não ser mandado voar a missão que eles inventam. Mas se eles perceberem que você não quer voar a missão, prova-se que você não está louco, e eles mandam você voar a missão” (mais sobre o livro, emhttp://www.livrariasaraiva.com.br/produto/347842/ardil-22-(catch-22) [NTs].
[9] De http://www.moonofalabama.org/2013/08/syria-obamas-climb-down.html: “Naquele momento, Obama só poderia ter uma de duas ideias na cabeça: ou (a) ele não quer guerra e espera que o Congresso o salve daquela estúpida “linha vermelha”, armadilha que ele mesmo inventou para si próprio e que foi a causa real da operação clandestina, falsa, no subúrbio de Damasco; ou (b) ele quer guerra e espera que o AIPAC, com seu descomunal lobby, ponha ordem no Congresso e lhe dê sua guerra, para benefício do sionismo universal.”
[10] http://www.militarytimes.com/interactive/article/20130911/NEWS/309110009
[11] http://www.mcclatchydc.com/2013/09/13/202119/obamas-shifting-stances-on-syria.html#.UjT5utK-pRI
[12] http://english.al-akhbar.com/content/syria-crisis-new-global-balance-making
[13] http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2013/09/214247.htm
[14] http://www.reuters.com/article/2013/09/14/us-syria-crisis-idUSBRE98A15720130914
A.
G.
Sem comentários:
Enviar um comentário