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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Rumo a um neo-totalitarismo?

" Porquê Obama, tal como George W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer aqueles que nele votaram mas sim expandir “a mais poderosa instituição da história do mundo, uma instituição que matou e desalojou bem mais de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis, desde 1962 .

Um painel de controle da Agência de Segurança Nacional (NSA), nos EUA

Espionagem militar maciça dos EUA apoia-se na cumplicidade das corporações da internet e numa safra de filmes pró-guerra. Felizmente, agora sabemos de tudo
 

No seu livro, Propaganda, publicado em 1928, Edward Bernays escreveu: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo ocultos da sociedade constituem um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país”.
 
Bernays, o sobrinho norte-americano de Sigmund Freud, inventou a expressão “relações públicas” como um eufemismo para propaganda de estado. Ele lembrou, porém, que os que dizem a verdade, e um público esclarecido, são uma ameça permanente ao governo invisível.
 
Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os documentos do governo estadunidense conhecidos como The Pentagon Papers. Revelou que a invasão do Vietnã fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos depois, o senador Frank Church dirigiu audiências extraordinárias no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da democracia americana. Estas puseram a nu a plena extensão do governo invisível: a espionagem e subversão internas e a provocação de guerra pelas agências de inteligência e “segurança”, bem como o apoio que recebiam das grandes corporações e das mídias, tanto conservadores como liberais.
 
Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA), Church afirmou: “Sei que a capacidade que há para instaurar uma tirania na América. Devemos assegurar que esta agência, e todas as que possuem esta tecnologia [de espionagem] operem dentro da lei… de modo que nunca cruzemos esse abismo. Trata-se do abismo do qual não há retorno”.
 
Em 11 de Junho de 2013, após as revelações feitas por Edward Snowden (um ex-contratado da CIA e NSA), e publicadas por The Guardian,Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora escorregaram para “aquele abismo”.
 
A revelação de Snowden, de que Washington utilizou a Google, Facebook, Apple e outros gigantes da tecnologia para espionar quase toda a internet, é uma nova evidência da forma moderna de fascismo – esse é o “abismo”. Depois de alimentar regimes autoritários por todo o mundo – desde a América Latina à África e à Indonésia – o gene cresceu em casa. Entender isto é tão importante quanto entender o abuso criminoso da tecnologia.
 
Fred Branfman, que denunciou a destruição “secreta” do pequeno Laos pela aviação dos EUA, nas décadas de 1960 e 70, proporciona uma resposta para aqueles que ainda se perguntam como um presidente afro-americano, professor de direito constitucional, pode comandar tamanha ilegalidade. “Sob o Obama, os Estados Unidos ainda estão longe de ser um estado policial clássico. . . ”, escreveu ele, “Mas nenhum presidente fez mais para criar a infraestrutura para um possível futuro totalitário”. Por que? Porque Obama, tal como George W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer aqueles que nele votaram mas sim expandir “a mais poderosa instituição da história do mundo, uma instituição que matou e desalojou bem mais de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis, desde 1962.
No novo ciber-poder americano, só as portas giratórias mudaram. O diretor da Google Ideas, Jared Cohen, era conselheiro de Condaleeza Rice, a antiga secretária de Estado no governo Bush, que mentiu quando disse que Saddam Hussein podia atacar os EUA com armas nucleares.

Cohen e o presidente executivo da Google, Eric Schmidt – eles encontraram-se nas ruínas do Iraque – escreveram um livro em co-autoria,The New Digital Age, aclamado como visionário pelo antigo diretor da CIA Michael Hayden e pelos criminosos de guerra Henry Kissinger e Tony Blair. Os autores não mencionam o programa de espionagem Prism , revelado por Edward Snowden, que proporciona à NSA acesso a todos os que utilizamos o Google.

Controle e dominação são as duas palavras que dão forma a esse tipo de programa. São exercidas por meio de planos políticos, econômicos e militares, entre os quais a vigilância em massa é uma parte essencial — mas também o é vasta propaganda entre a opinião pública.

Este era o ponto de Edward Bernay. As suas duas campanhas de relações publicas de maior êxito foram convencer os nort-americanos de que deveriam ir à guerra em 1917 e persuadir as mulheres a fumar em público; os cigarros eram “tochas da liberdade” que acelerariam a libertação da mulher.

É cultura popular que funciona mais eficazmente a ideia fraudulenta segundo a qual os Estados Unidos são moralmente superiores e, portanto “líderes do mundo livre”. Mas, mesmo durante os períodos mais patrioteiros de Hollywood houve filmes excepcionais (como os de Stanley Kubrick) e filmes europeus audaciosos que encontravam distribuidores nos EUA.

Nestes dias, não há Kubrick, nem Strangelove e o mercado norte-americano está quase fechado a filmes estrangeiros.

Quando apresentei meu filme A Guerra na Democracia a um grande distribuidor liberal dos EUA, recebi uma lista de mudanças exigidas para “assegurar que o filme fosse aceitável”. A inesquecível concessão que ele me fez foi: “OK, talvez pudéssemos deixar Sean Penn como narrador. Isso o satisfaria?” Ultimamente, o filme de apologia da tortura Zero Dark Thirty, de Katherine Bigelow, e We Steal Secrets, um ataque a machadadas contra Julian Assange, foram feitos com o apoio generoso da Universal Studios, cuja companhia-mãe até recentemente era a General Electric. A mesma GE que fabrica armas, componentes para aviões-caça e tecnologia avançada de vigilância. A companhia também tem interesses lucrativos no Iraque “libertado”.

O poder dos contadores de verdades, como Bradley Manning, Julian Assange e Edward Snowden, é que eles refutam toda uma mitologia construída cuidadosamente pelo cinema corporativo, pela academia e pelas mídias de mercado. O WikiLeaks é especialmente perigoso porque proporciona um meio para publicar as verdades que incomodam o poder. Isto foi conseguido em Collateral Murder, o vídeo filmado a partir da cabine de um helicóptero Apache dos EUA, supostamente vazado pelo jovem soldado Bradley Manning. O impacto deste único vídeo marcou Manning e Assange para a vingança do Estado. Ali estavam pilotos dos EUA a assassinar jornalistas e mutilar crianças numa rua de Bagdad, claramente divertindo-se, e descrevendo sua atrocidade como “nice”. No entanto, num sentido vital, eles não escaparam sem punição; somos agora testemunhas, cabe a nós denunciá-los.
Este é o vídeo que o Wikileaks vazou em abril de 2010, onde o exercito norte-americano mata 12 pessoas. Todas elas civis. Duas delas, jornalistas da agência de notícias Reuters, que tiveram suas máquinas fotográficas confundidas com armas de grande porte.
Em uma parte do vídeo, uma van preta chega para ajudar um dos feridos, e é também alvejada pelo Apache americano. Dentro dela havia duas crianças que estavam indo para a escola.
A princípio o Wikileaks vazou o vídeo que tinha 38 minutos, depois compilou ele nesse curta de 17 e adicionou legendas, para que tudo ficasse mais fácil de ser visualizado. 

Porque se afirma em Portugal, via Panamá, ser muito, muito, muito, muito mais mais importante aprovar o OE/2014 que atender à sua hipotética inconstitucionalidade?



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