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terça-feira, 26 de abril de 2011

Os sinos de vidro

Quando rapaz novo, já no liceu da minha terra natal, como qualquer outro rapaz da minha idade tinha uma fisga com forquilha de giesta seca, uma maravilha.

Andava sempre comigo, assim como pequenos seixos que eram as munições da arma que trazia escondida, já que era proibida pelas autoridades e pelos meus pais, que repetiam vezes sem conta que uma pedrada podia ser pior que um tiro…

Queria lá saber dos conselhos e proibições… Nem ia ficar atrás dos colegas.

Um belo dia, no fim das aulas, passamos por uma igreja e não resistimos; rapamos das fisgas – ou atiradeiras – e lá vão seixos ou godos contra os sinos daquele belo campanário. Que grande banzé ali foi…

O sacristão sai pela porta lateral da igreja, a porta da sacristia, esbaforido e desata a proferir impropérios contra nós que, “inocentes”, tinhamos guardado rapidamente as armas bélicas, razão pela qual mostramos grande admiração em relação ao sacristão e sua verborreia, imprópria para um homem que fazia profissão de fé naquele templo de Deus.

Como ninguém nos tinha visto, caso encerrado pois nós, simples estudantes que regressavam a casa após longa tarde de aulas, estavamos inocentes…

Vem isto a propósito da ex campanha eleitoral, cujos candidatos desataram a badalar todas as suas ideias – ver ataques pessoais e ideológicos contra os adversários na corrida a Belém – mas não para verem o Deus Menino.

Ora, como ninguém nos ouve, devo dizer que a selecção está feita e que de entre todos os candidatos apenas dois reunem certas hipóteses – tal é a situação do país e dos interesses instalados – para que haja uma segunda volta, evitando que o actual presidente seja eleito à primeira… o que, havendo segunda volta pode fazer com que se veja obrigado a abandonar o palácio após cinco anos…sinos de vidro têm uma história em Itália durante a II Guerra Mundial:

“Devido às exigências da guerra todos os metais tiveram enorme procura, fazendo com que até mesmo algumas obras de arte tenham sido fundidas para serem utilizadas em maquinaria bélica. Assim os sinos estiveram em grande plano, o que motivou que um engenheiro italiano, Andrea Barrieri, descobrisse um novo processo de obter vidro praticamente inquebrável, com que bazia novos sinos a substituir os antigos. Pelas experiências feitas, aqueles sinos tinham a mesma amplutude e gravidade de som que os sinos de bronze”, só que saíam muito caros.

Os sinos são caros, os de vidro eram ainda mais caros, o que em nada agradaria aos capitalistas, que lamentariam o desperdício, como os homens das finanças e economia, obrigando-nos a pagar mais essa despesa.

Os sinos tocam por algum motivo: júbilo, morte, fogo… e os sinos de vidro não poderiam tocar pelos mesmos motivos. E para o que faz, o presidente da república bem poderia ficar em casa a ouvir os outros badalar e tentar chamar o povo ao local de voto… para votarem nas promessas feitas que este ano se resumem a três letras: BPN, porque tudo o mais é treta...!

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