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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O fim dos professores



Estamos n o ano 2.209 d.C. – ou seja, daqui a quase duzentos anos – e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte pergunta:

- Avô, porque está a acabar o mundo?

A calma pergunta revela a inocência da alma infantil. E no mesmo tom, vem a resposta:

- Porque já não existem professores, meu anjo.

- Professores? Mas, o que é isso? O que fazia um professor?

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, comportar-se, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

- Eles ensinavam tudo isso? Mas, eram sábios?

- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios, Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram queridos pelos alunos.

- E como foi que desapreceram, avô?

-Ah, foi tudo parte dum plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O avô não se lembra do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, só para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiram aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados dos seus filhos.

Estes, foram ensinados a dizer: “eu pago e o senhor tem que me ensinar”; ou, “para quê estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais que o senhor”; ou ainda: “meu pai dá-me mais de mesada do que o senhor ganha”.

Isso, quando não iam os próprios pais gritar com os professores às escolas. Para isso, muito ajudou a multiplicação das escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que não estavam a conseguir “gerir a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas de violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Tornaram-se veradeiros bombos de festa de pais e alunos.

Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador, esbarrava sempre na obsessão dos pais com a aprovação dos filhos, para que entrassem numa qualquer universidade.

“Ah, eu quero saber se isso que estão a ensinar vai fazer com que meu filho passe e entre na faculdade”, diziam os pais nas reuniões nas escolas. E assim, praticamente, todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no 12º ano.

Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as trocas de ideias, tudo, enfim se tornou decoração de fórmulas.

Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou de frequentar a escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Os seus salários foram, gradualmente, esquecidos e mais ninguém queria dedicar-se a tão nobre profissão.

Quando alguém criticava a qualidade do ensino, vinha sempre dizer que a culpa era do professor.

As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas de televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.

Ah, mas houve um factor chave em toda esta história. Houve, numa longíncua época, chamada ditadura, quando os professores foram colocados sob a mira – e quase acabaram com eles – que foram perseguidos, aposentados, expulsos e exilados em nome do combate á subversão e à instalação duma república sindical no país.

Eles fracassaram porque a tal república sindical se instalou, tais ideias subversivas tomaram o poder, implantaram uma “educação libertadora” que ninguém soube o que era, fizeram a aprovação automática dos alunos, com o apoio dos políticos… Foi o golpe de misericórdia nos professores.

- Não sei o que foi pior – se os “milicianos da ditadura” se os subversivos.

- Não conheço essa palavra. O que é um miliciano da ditadura, avô?

- Era e é, meu filho. Hoje diz-se não existirem, só que existindo, sabem disfarçar-se.

(Enviado por um Amigo)

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