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segunda-feira, 13 de junho de 2011
Pragas sociais da recessão
Incapazes de modificar o sistema, opta-se por recuperar as funções do Estado na economia.
O descalabro económico iniciado em 2008, com as bancarrotas nos Estados Unidos, produziu a queda europeia da produção e o estancamento do crescimento nos grandes países asiáticos.
As repercussões para Portugal – explosão da bolsa imobiliária e do vertiginoso aumento do desemprego – são dolorosamente conhecidas.
Foram piores que as das outras economias, em fase de recuperação, sem que a nossa saia do profundo marasmo. Apesar da imagem popular, a nossa indústria está ainda pior que a construção. Somos o enfermo da Europa. É um momento excelente para parar e pensar.
Estamos ante uma recessão, não uma crise. (As crises são do sistema, o qual não se ajusta.)
O terreno está bem abonado para que oportunistas, desonestos e especuladores se convertam na Diana da indignação popular.
Mas, a atenção que recebem os estafadores – como delinquentes que são – não deveria distraír-nos com o que, por muito que tenham roubado desde os seus postos de responsabilidade política ou pública, não são a causa – talvez um efeito – da recessão. Esta obedece mais a razões cíclicas do mercado que a outra coisa.
A presente recessão, superior em gravidade á que nos trouxe a guerra de Yom Kippur, com a subida dos preços do crude em 1974, infinitamente menos grave que a do ano 29, está a deixar notáveis pragas à sua passagem.
Incapazes como somos, como são, de modificar o sistema de raíz, uma primeira repercussão foi o franco reatamento da função estatal na recuperação económica.
O exército neoliberal bate em retirada (momentaneamente, não haja ilusões) ante o súbito despertar da fórmula social-democrata, que tantos davam por morta.
A fórmula cujo acosso e derrube constituiu o objectivo neoliberal, perseguido com grande brio e inquebrantável fé desde os tempos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, pelas esforçadas hostes da privatização universal.
Reconheça-se-lhes mérito: até a China, afundada nos seus ideiais maoístas, caiu de joelhos ante o deus do capitalismo.
A recessão de 1929 trouxe sangue, suor e lágrimas na forma de terror fascista, genocídios e uma descomunal guerra mundial.
O que agora se passa, à mercê da combinação de responsabilidade pública, intervencionismo e pragmatismo, é muito menos grave: a desnorteada fórmula do socialismo democrático (há outro?) deu alguns resultados. Até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, inicia um ciclo de respeitosa intervenção pública, como demonstram os planos para a saúde.
Uma das repercussões mais graves da recessão é que os grémios e corporações – omitindo os cartéis – que defendem interesses sectoriais, se entrincheiram ainda mais nos seus privilégios e chantageiam os governos, que acreditam ter nas suas mãos.
Estes, deveriam saber enfrentar-se até com os seus supostos amigos. A retórica hiperbólica do interesse geral para logo justificar rendições incondicionais a sectores muito sectoriais – valha a triste redundância – é uma caludicação que os amigos da social-democracia não deveriam perdoar, enquanto represewntantes – às vezes há que ir a bodas, a baptizados e funerais e, naturalmente, há que se vestir de gala para adular o seu rei capital.
Porque se as festas já não servem nem para cravar punhais por trás dos cortinados, para que servem?
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