Para a maior parte de entre nós, a pobreza é, antes de tudo, uma questão de rendimento: a falta de dinheiro e pensões demasiado baixas.
Há outras maneiras de definir a pobreza e, pelo facto, ele mesmo, combatê-la.
Tantas visões, tantas acções no terreno e, todavia, é-nos muito útil e necessário conhecer o leque das aproximações para todos os que se consagram á luta em favor da sua redução.
Num estudo levado a cabo pelo Conselho Internacional para o Estudo dos Direitos Humanos, Roger Riddel, especialista canadiano em desenvolvimento social daquele Conselho Internacional, resume assim as dificuldades:
“A pobreza é, ainda hoje, um sujeito controverso. Todos reconhecem que é um problema que deve ser regulado e resolvido. Mas não nos entendemos sobre o que define a pobreza, sobre o alvo das intervenções (o indivíduo, a família ou o lar) nem sobre a importância a acordar às diferentes dimensões da pobreza. Não nos entendemos sobre a dimensão – tempo da pobreza: deveremos considerá-la num momento preciso no tempo ou num longo período? É um fenómeno temporário ou permanente?
Não nos entendemos sobre a importância a acordar aos diferentes graus de pobreza (grande ou média) nem sobre a vulnerabilidade de certos grupos e os riscos que correm de se tornarem pobres.
Como não nos entendemos sobre uma definição de pobreza, não nos entendemos também sobre as causas nem a importância de cada uma delas. Mantém-se o desacordo sobre as soluções possíveis. Enfim, há grandes diferenças na vontade de mudar as coisas. Para alguns, trata-se simplesmente de aliviar a pobreza; outros querem reduzir o nível, a extensão e o grau de pobreza. Outros visam a sua completa eliminação.”
É provável que se ouçam diversas opiniões sobre este tão sensível sujeito entre os especialistas da pobreza no seio da colectividade e mesmo entre os membros da Rede Social do Porto. Entretanto, eis cinco aproximações à pobreza, retiradas dum artigo de fundo de Roger Riddel sobre o assunto:
«1 – O rendimento: este assunto considera a pobreza do ponto de vista monetário. Faz-se apelo às medidas relativas ou absolutas do rendimento dum cabaz tipo “produtos essenciais.” Concentra-se sobre o crescimento económico e ou a redistribuição da riqueza.
2 – A capacidade de funcionamento: devemos concentrar-nos no grau de liberdade da pessoa e sobre o seu acesso às funções fundamentais, como a saúde, a alimentação e a educação. O índice de pobreza humana das Nações Unidas, por exemplo, define a pobreza como sendo a privação de tais elementos essenciais: a esperança de vida, o conhecimento e um nível de vida decente. Compreende os indicadores sobre a má nutrição, a mortalidade infantil e o acesso à escola primária. Esta maneira de ver subentende a disposição de bens colectivos.
3 - A exclusão social: define a pobreza como sendo o estado de pessoas ou grupos que vivem à margem da sociedade, sem beneficiar das suas vantagens. Põe claramente o acento sobre a dinâmica e as estruturas que exercem alguns membros da sociedade. Por vezes, dá nascimento a políticas anti-discriminatórias e a iniciativas de inclusão.
4 – A participação: incita as pessoas que vivem na pobreza a definir o que esta pobreza significa para elas. É também uma forma multidimensional que favorece a responsabilização, pela participação das pessoas visadas na procura de soluções.
5 – As crenças religiosas: a maioria das aproximações religiosas combinam elementos dos pontos anteriores. Acrescentam frequentemente a dimensão de desigualdade e o acento é posto não só nos pobres, mas também nos ricos e sobre o fosso que os separa. Estas formas religiosas colocam também a questão sobre os valores humanos, tais como o respeito, a confiança, a compaixão, a procura da verdade…»
Mas também a humildade, o que pode ser interpretado como uma obrigação da cidadania viver no ou mesmo abaixo do limiar da pobreza, esperando pela recompensa divina.
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