Ex-ministro
das Finanças alemão critica política salarial de Merkel, acusando-a de ser uma
das responsáveis da crise na Europa.
Oskar Lafontaine, um dos fundadores do euro quando era ministro
das Finanças da Alemanha, pediu o fim do euro para deixar os países do Sul
recuperarem. E sublinha que "os alemães ainda não perceberam que o sul da
Europa, incluindo a França, será forçado pela sua miséria actual a lutar, mais
cedo ou mais tarde, contra a hegemonia alemã“.
Numa
comunicação colocada no site do Partido de Esquerda do Parlamento
alemão na semana passada, Lafontaine não deixa de apontar o dedo à Alemanha por
ter baixado os seus salários para proteger as suas empresas exportadoras. Uma
crítica que vários subscrevem, a ponto de a Bélgica ter feito queixa junto da
Comissão Europeia acusando Berlim de “dumping social”, numa alusão à venda de
bens abaixo do custo de produção que é proibida na UE.
Na Alemanha não existe uma
política de salário mínimo e é possível aos trabalhadores com salários mais baixos
não pagar impostos nem contribuir para a segurança social ou outro sistema de
pensões. Ou seja, há várias empresas que pagam aos seus funcionários três a
quatro euros por hora.
“Merkel vai despertar do seu sono
hipócrita quando, a sofrer por causa da política salarial alemã, os países
europeus unirem forças para fazer um ponto de viragem na crise penalizando
inevitavelmente as exportações alemãs”, avisa Lafontaine.
Por estas razões, o espírito do
euro foi minado e não tem condições para prosseguir, diz o ex-ministro
porque não foi possível nos países do euro ter uma política de salários
coordenada em função da produtividade.
Por isso, deve ser retomado um
sistema como aquele que foi precursor da união monetária, o Sistema Monetário
Europeu, que permite fazer “desvalorizações e valorizações controladas” das
moedas nacionais, defende, o que exigira um controlo muito apertado sobre os
fluxos de capitais. Os países em situação mais débil cujas moedas seriam
necessariamente desvalorizadas teriam, num período de transição, de ser
ajudados pelo Banco Centro Europeu, por exemplo, para evitar o colapso.
Uma condição essencial para o
funcionamento de um sistema monetário europeu seria a reforma do sector
financeiro assim como a sua regulação. "O casino tem de ser encerrado",
escreve. Esta transição teria de ser gradual começando, por exemplo, pela
Grécia e o Chipre.
As políticas de austeridade estão
a levar ao desastre, considera, juntado a sua voz às várias que se têm
levantado na Europa contra este "aperto de cintos" e que ele próprio
cita, como Barroso e Enrico Letta, em Itália. Durante o fim-de-semana, o
ministro das Finanças francês Pierre Moscovici proclamou o fim da austeridade e
um triunfo da política francesa.
"A austeridade está
concluída. Esta é uma viragem decisiva na história do projecto europeu desde o
euro", disse Moscovici à TV francesa. "Estamos
a ver o fim do dogma austeridade. É uma vitória do ponto de vista
francês." Descartando a hipótese de cortes adicionais, Paris vai, no
entanto, manter as políticas de corte de despesa pública.
=Público=
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