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terça-feira, 10 de maio de 2011

Tráfico de órgãos no Kosovo

O relatório apresentado a 16 de Dezembro ao Conselho da Europa, elaborado pelo deputado suiço Dick Marty, sobre o tráfico de órgãos de que seriam vítimas os prisioneiros do Exército de Libertação do Kosovo (UCK), teve um efeito duma bomba.

Portanto, as alegações contidas nesse relatório não são novas: tal tráfico foi já evocado nas memórias publicadas em 2008 pela antiga Procuradora-Geral do Tribunal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIY), Carla Ponte e, no Kosovo, a hipótese dum tal tráfico é um «rumor» que circula há muito tempo. Assim, o inquérito publicado em 2009 pelos jornalistas Altin Raxhimi, Michael Montegomery e Vladimir Karajavait, confirmava a existência dum verdadeiro “arquipélago de centros secretos” de detenção do UCK na Albânia.

O ralatório de Marty traz, no entanto, novas informações, permitindo melhor compreender os mecanismos deste tráfico, que tento resumir.

Várias centenas de prisioneiros capturados pelo UCK – principalmente sérvios do Kosovo, mas também provavelmente romenos e albaneses acusados de “colaboração” – teriam sido deportados para a Albânia em 1998/99. Metidos em diversos pequenos centros de detenção – entre os quais a famosa «casa amarela» da aldeia de Rripe, perto de Burrel, visitada pelos inspectores do TPIY – alguns dentre eles teriam alimentado o tráfico de órgãos…

Os prisioneiros eram conduzidos a uma pequena clínica, situada em Fushe kruga, a uns quinze quilómetros do aeroporto internacional de Tirana, quando os clientes se manifestavam para receber os órgãos.

Eram, então, abatidos com uma bala na cabeça antes que os órgãos, principalmente os rins, fossem prelevados. Este tráfico era dirigido pelo «grupo da drenica», pequeno nódulo de combatentes do UCK reagrupados em volta de duas figuras chave: Hashim Thaçi, actual primeiro-ministro do Kosovo, e Shaip Muja, então responsável pela brigada médica do UCK e hoje conselheiro para a Saúde do mesmo Hashim Thaçi.

O relatório de Marty deixa ainda muitas questões sem resposta, particularmente o número exacto de prisioneiros vítimas do tráfico. A justiça sérvia, por seu lado, fala de 500 pessoas deportadas para a Albânia. Ignora-se igualmente quais eram os parceiros estrangeiros desse tráfico, e sobretudo quem eram os beneficiários.

O relatório releva que 60 pacientes do Hospital universitário de Jerusalém teriam beneficiado de transplantes renais em 2001, número excepcionalmente elevado.

Importa colocar o crime no seu justo valor. Se o tráfico é confirmado, é um crime contra a humanidade massivo, que se situa, na ordem de horror, ao “mesmo nível” que o massagre – genocídio de Srebrénica. Outro ponto essencial; este tráfico foi continuado até 2001, quer dizer, dois anos após a entrada das tropas da OTAN no Kosovo e a instauração do protectorado das Nações Unidas no território.

O relatório nota, por outro lado, que a partir de Junho de 1999, a fronteira entre a Albânia e o Kosovo não sofria controlo real.

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