Entrevista propagada através da rede, em 24/04/2010, se não se tornar uma página da história, pelo menos será lembrada pelas revelações contundentes da política geoestratégica dos EUA, o império em busca da hegemonia mundial.
Foi ela concedida à Press TV pelo ex-secretário adjunto do Tesouro dos EUA, Paul Robert Craig. Enquanto deixa à mostra a cartada do imperialismo americano, nesta ocasião jogada na Líbia, Craig também expõe o papel subalterno de países como a Inglaterra, França, Alemanha, Itália, reduzindo-os a “estados-fantoche” dos EUA. E os seus papéis de chefes de Estado ao nível de “governos-marionetes”. O entrevistado ainda considera que o alvo primordial do ataque à Libia é a China – potencial ameaça aos desígnios de hegemonia mundial dos EUA –, que ora representa forte ameaça pelos próprios mega-investimentos naquele país, os quais constituiriam um forte esteio para sustentar a sua penetração na África.
Em segundo plano, e dependendo do resultado da operação Líbia, encontra-se em pauta uma operação contra a Síria, visando atingir a Rússia. Este país tem uma grande base naval na Síria, que lhe dá autonomia de navegação permanente no Mediterrâneo, e isso se choca com as ambições de mando mundial norte-americano. Craig afirma que o sinal dessa investida já está sendo dado pela “diabolização” da Síria, campanha a que estamos assistindo, diariamente, através dos noticiários da TV.
Por sua vez, em artigo na Carta Capital (alguns excertos no final), Wálter Maierovitch nos dá motivos para suspeitar de um quarto possível propósito (três foram revelados por Craig) para a erradicação do governo de Kadafi, ora em execução: uma provável patranha engendrada para transformar os atuais devedores dos muitos bilhões de dólares líbios espalhados pelo “mundo ocidental”, em “herdeiros” virtuais dessa colossal fortuna.
As denúncias de Craig:
Na Líbia, há uma rebelião armada, iniciada apenas no leste do país, onde há petróleo. Há relatos fidedignos de que a CIA está envolvida nos protestos.
Há relatos da imprensa segundo os quais a CIA enviou para a Líbia os seus agentes líbios para comandar a rebelião. É uma operação da CIA, não um protesto legítimo do povo líbio. É uma rebelião armada que não tem apoio na capital. Está a acontecer no leste, onde está o petróleo, e está apontada à China.
Na minha opinião [diz Craig], trata-se de afastar a China do Mediterrâneo. A China tem grandes investimentos em energia e em construção na Líbia. São 50 grandes projetos de investimento no leste da Líbia.
Os EUA estão a combater isto organizando o Comando Africano dos EUA (USAC) a que Kadafi recusou juntar-se. Essa é a segunda razão por que os americanos querem mandar Kadafi embora.
E a terceira razão é que a Líbia controla parte da costa mediterrânea, e não está em mãos norte-americanas.
Pela resolução da ONU, as forças européias e norte-americanas não deveriam estar lá, lutando ao lado dos rebeldes. Mas está claro que a CIA está a fazer isto. Se a Otan ... conseguir derrubar Kadafi, o próximo alvo será a Síria, que já foi diabolizada.
A Síria é um alvo porque a Rússia tem lá uma grande base naval. Isso dá à marinha russa uma presença no Mediterrâneo: os EUA e a Otan só querem isso. Se forem bem sucedidos com Kadafi a Síria virá a seguir.
Já estão a responsabilizar o Irã pelo que se passa na Síria e na Líbia. O Irã é um alvo fundamental, porque é um Estado independente que não é um fantoche dos colonialistas ocidentais.
Então a questão é, por que a Rússia e a China se abstiveram de vetar na ONU a proposta contra a Líbia? Não sabemos a resposta. Podem estar esperando os americanos avançar até o limite, ou ter evitado um confronto com os EUA para não correr os risco de ter uma avalanche de propaganda ocidental contra eles. Mas se abstiveram porque não concordaram com a política e continuam a criticá-la.
O banco central criado pelos rebeldes, a produção e venda de petróleo a empresas dos EUA e de outros países são acontecimentos muito estranhos numa revolução. Isto dá destaque aos relatórios que dão a CIA como presente na origem da dita revolta. Há ainda indícios de que a CIA está a fomentar isto e a controlar as ações de modo a excluir a China e os seus investimentos em petróleo líbio.
Na minha opinião [afirma Craig], o que está acontecendo é comparável ao que os EUA e a Grã-Bretanha fizeram ao Japão nos anos 1930. Quando impediram o acesso do Japão ao petróleo, à borracha, aos minerais; foi essa a origem da II Guerra Mundial no Pacífico. E agora norte-americanos e britânicos estão a fazer a mesma coisa à China.
A diferença é que a China tem armas nucleares e também tem uma economia mais forte que os norte-americanos.
O mundo inteiro está em jogo com a ganância norte-americana, ; o impulso para a hegemonia norte-americana no mundo está a levá-lo para uma guerra mundial.
Desde Bill Clinton, George W. Bush e agora Obama, aprendemos que a lei não significa nada para o poder executivo dos EUA.
Não respeitam a lei, portanto não vão dar atenção à ONU. A ONU é uma organização-fantoche dos EUA e Washington irá usá-la como cobertura. Portanto, se não conseguirem correr com Kadafi, irão colocar tropas no terreno; é por isso que temos os franceses e os britânicos envolvidos ... São marionetes.
Estes países não são independentes. Sarkozy não responde perante o povo francês; responde perante Washington. O Primeiro-ministro britânico não responde perante o povo inglês, mas perante Washington. Estes são os governos-marionetes de um império, nada têm a ver com seu próprio povo, somos nós quem os põe no poder.
Esses países gostariam de ter as tropas da Otan no terreno. Eles estão no bolso da CIA. Nunca antes Kadafi foi chamado de ditador brutal que tem de ser deposto ... Mas, de repente, tem que se ir embora. Por que? Porque está a bloquear o Comando Africano dos EUA, controla parte do Mediterrâneo e deixou a China procurar aí a satisfação de suas necessidades de energia para o futuro. Washington está a tentar enfraquecer o seu principal rival, a China, negando-lhe o acesso à energia.
É disso que estamos a falar, de uma reação dos EUA à penetração da China na África.
Se os EUA estivessem preocupados com ações humanitárias, não estariam a matar tanta gente no Afeganistão e no Paquistão com os seus “drones” (aviões militares não tripulados agora usados na Líbia) e ofensivas militares.
Estamos a apenas a falar de países da Otan, os estados-fantoche dos EUA. Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha, todos pertencem ao império norte-americano. Temos tropas na Alemanha desde 1945. Os americanos têm bases militares em Itália. Como se pode ser um país independente desse modo? A França foi relativamente independente até Washington por Sarkozy no poder. Todos eles fazem o que lhes dissermos.
Washington quer mandar na Rússia, na China, no Irão, em África, e em toda a América do Sul. Washington quer a hegemonia sobre o mundo ... E Washington vai persegui-la a todo custo.
Complementando as denúncias e revelações – com sabor de manifesto – acima transcritas, registramos, a seguir, alguns dados difundidos por Wálter Fanganiello Maierovitch em artigo levado a público pela revista Carta Capital (p. 21), de 30/03/2011:
Os velhos amigos de Kaddafi agora se unem para derrubá-lo em prol da “democracia”.
Com o fim da Guerra Fria, Kaddafi mudou de lado. Logrou levantar embargos e despejar pelo planeta dinheiro de cinco fundos soberanos da Líbia. Apenas na Europa, o país mandou investir 340 bilhões de dólares e chegou a evitar a falência da Fiat. Hoje, o Reino Unido é o maior dependente financeiro dos fundos líbios.
Uma pequena mostra dos receptores de dinheiro líbio: nos EUA, Xerorx, Pfizer, Halliburton, Mobil e Chevron; na França, Eletricité de France (EDF) e Alcatel-Lucent; na Alemanha, Siemens; no Reino Unido, Shell- Royal Dutch, Vodafone, Glaxo SmithKline, Person, Standard Chartered e BP; na Itália, ENI (energia), Unicred (segundo maior banco) e Finmeccanica.
De repente, fala-se em derrubar Kaddafi para implantar democracia e permitir liberdades individuais e públicas [ausentes da Líbia por 42 anos, sem preocupar ninguém].
Antes, Kaddafi era incensado e plantava barracas em Paris e Roma. E o amigo dos ditadores, Sarkozy, agora assume o papel de protagonista de uma farsa para encobrir interesses econômicos e eleitorais.
No Bahrein, na Jordânia e na Arábia Saudita, os ditadores convêm e o povo não adianta esperar por uma Resolução 1.973 [da ONU]. A secretária Clinton queria o diálogo e não a queda de Mubarak.
(Enviado por um Amigo)
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