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sexta-feira, 6 de maio de 2011

VENDER CARA A COROA - pela salvação nacional!

Nunca fui monárquico. Mas o estado a que Portugal chegou nos dias que correm leva-me a aceitar que um século de república basta, e que um modelo inovador de monarquia pode trazer a solução para aquele que é agora o nosso maior problema - a solvência.

A desgraça deste país foi, fundamentalmente, ter sido saqueado por vagas sucessivas de gestores do poder, seus associados, familiares, amigos e correligionários.

É que, entre nós, a República raramente foi entendida como "causa pública", para a qual há brio em contribuir. O conceito tornou-se o de "coisa pública", de que há que apropriar-se e utilizar em proveito próprio. A República falhou tão estrondosamente em estimular o sentido cívico, de solidariedade e de decência, bem como o patriotismo dos Portugueses, quanto o socialismo falhou em proporcionar aos povos do lado de lá do muro uma terra sem amos e uma sociedade fraterna.

O que a classe política que temos conseguiu para o país demonstra bem que, se os Portugueses deixaram em África e nas Índias a sua influência cultural, também de lá trouxeram muitas ideias. Não há na Europa quem mais se tenha aproximado do sistema de castas, nem quem tenha implementado uma tão próxima versão do apartheid! Baseado este igualmente na cor - na da filiação partidária e, sobretudo, na do dinheiro. Temos assim uma maioria de infra-azuis, que raramente forram os bolsos com uma nota de 20; e um conjunto de castas privilegiadas, ultra-laranjas, para quem 50 € são trocos que se deixam na mesa do restaurante fino.

As leis são feitas para poderem ter diferentes aplicações, segundo o espectro de cores - por norma, não se penalizam roubos que envolvam montantes com mais de 4 algarismos. E há castas que têm as suas próprias regras, que podem até ser opostas às da maioria.

Por exemplo: se um trabalhador se despede, nada tem a receber e ainda está obrigado a indemnizar o patrão pelo tempo de pré-aviso que lhe possa faltar. Mas, na mesma situação, tratando-se de alguém que integre uma casta que determina os seus próprios vencimentos, ainda leva uma choruda "indemnização"... Mesmo que nunca tenha produzido nada, ou por ser elemento redundante, ou por não ter qualquer utilidade (que não para o próprio) o organismo a que estava vinculado.

Um infra-azul pode penar por uma variedade de empregos, mas ao fim de uma vida de trabalho levará para casa uma só reforma, e bem magra. Contudo, se se tratar de um ultra-laranja, acumulará em pouco tempo uma mórbida pensão obesa por cada cargo exercido...

Enfim, neste regime de socialismo para ricos, o velho princípio utópico comunista tornou-se "de cada um segundo a sua engenhosidade (fiscal), a cada um segundo a sua rapacidade". Mas dá para parafrasear também Churchill, sobretudo no caso dos bancos que nos arrastam para o fundo: "nunca tanto foi devido a tanta gente por tão poucos!"

E assim jaz exangue a centenária D. República, em estado terminal, consumida por uma forma peculiar de malária ou paludismo. Os maus ares cá do paul acolheram os mosquitos Corruptione falcipara e Ganancia vivax, que inocularam à velha senhora catervas de plasmódios, parasitas que se foram apoderando até à última das hemácias, aquelas células em forma de moeda que transportam o oxigénio que respiramos. Agora, só uma transfusão massiva pode salvar a quase defunta, mas exigem que a pague... Só que nada lhe resta, a não ser vender para transplante os últimos dos seus órgãos que ainda se aproveitem...

É isso que nos vão propor, a venda para exploração por privados do que ainda pertence ao Estado: hospitais, pontes, estabelecimentos de ensino, portos, prisões, talvez até toda a faixa litoral e os monumentos nacionais... Entretanto, ganha terreno a perspectiva da integração lusa na monarquia espanhola...

De que nos valeria, porém, esse recuo de mais de 400 anos na História? Tão-pouco nos interessa o regresso dos Braganças. Precisamos de um novo alento, de uma dinastia redentora. O que passa grosso modo por... pôr a coroa portuguesa a leilão!

Se da República todos se querem servir, não faltará quem esteja disposto a pagar rios de dinheiro para se tornar rei deste pitoresco rectângulo. A nossa História confere uma enorme sedução ao título, sobretudo quando contemplado do lado de lá do Atlântico, onde pululam bilionários em países cuja história começou há poucas gerações atrás.

Coroar com uma coroa real e lendária uma carreira fulgurante no mundo dos negócios é uma possibilidade única, que supera os sonhos mais ousados e que encontrará o seu valor de mercado - provavelmente uma parte substancial da nossa dívida pública.

São centenas, se não milhares, os bilionários do planeta. E se os há dispostos a entrar com milhões numa lista de espera para algo tão efémero como um voo espacial, também existem os que não hesitarão em trocar os seus fabulosos cifrões pela glória - vitalícia, perpétua e eventualmente transmissível - de reinar sobre o país que ocupa o centro de tantos mapas-mundi.

Escusamos de ser alarves e oferecer de bandeja o trono ao multimilionário que anuncie o maior dote. A democracia é para continuar, aperfeiçoada, e aposto que não haverá eleições mais concorridas do que aquela em que o boletim de voto trouxer, além dos nomes e fotos dos candidatos, o montante que cada um se compromete a entregar à Nação!

Despachemo-nos, pois começa a tornar-se moda as grandes fortunas doarem para causas filantrópicas a maior parte do que acumularam. O nosso caso também tem a ver com filantropia, mas poderemos já não ir a tempo de conseguir um Guilherme I Gates, ou um Warren I Buffett... Quiçá um Carlos II Slim?

Faço notar ainda que há precedentes históricos. Algumas das mais prósperas monarquias europeias foram, em momentos decisivos da sua história e muito antes da era da globalização, recrutar ao estrangeiro os seus fundadores dinásticos. É o caso da Suécia, que há dois séculos atrás convidou para o trono um dos generais de Napoleão, Jean-Baptiste Bernadotte, antepassado do actual Carl XVI Gustaf. Também a Noruega, ao separar-se da Suécia em 1905, importou da Dinamarca o seu novo rei, Haakon VII, avô de Harald V.

A viabilidade económica desta opção é tanto mais evidente se considerarmos o encaixe financeiro adicional possível com algo de que o Estado, falido, hoje prescinde, e que foi uma boa fonte de receita nos tempos da última dinastia - a venda de títulos nobiliárquicos. O de Condestável do Reino poderá ser atribuído graciosamente a Cavaco Silva, em reconhecimento pelo desapego com que aceitará renunciar às suas prerrogativas de Presidente, a bem da Nação.

Mas todos os outros títulos serão vendidos a peso de ouro, pela melhor oferta - nada de ajustes directos! E a ASAE tratará de pôr cobro à contrafacção actual, em que qualquer pelintra se pavoneia como conde, marquês, arquiduque, califa ou até faraó (no caso de certas múmias com retoques evidentes de botox).

Escusa a imprensa cor-de-rosa de ficar apreensiva - vai ser a oportunidade de internacionalizar a distribuição. E o turismo terá potencial para um enorme incremento - o que dependerá muito da criatividade dos nossos coreógrafos e afins: vai ser necessário criar de raiz todo um protocolo régio e folclore palaciano! Sem que isso implique qualquer acréscimo de despesa: o orçamento da Presidência da República Portuguesa ultrapassa os de várias casas reais europeias... E ainda poupamos a despesa e a poluição de eleições subsequentes.

A mudança de regime será também a oportunidade soberana para, ao reescrever-se a Constituição, se acabar com a irreversibilidade dos "direitos adquiridos" e com a prescrição dos crimes das inúmeras sanguessugas que exauriram a Nação. Como gesto de boa vontade, será conferido o título de barão a todos quantos restituírem voluntariamente os fundos sacados ao Estado.

Neste esforço para salvar o país, é de esperar que o patriotismo se sobreponha ao republicanismo entre os partidários do actual regime; e que o apelo patriótico leve os ricos-homens do reino a aliviar-se do peso excessivo dos seus capitais, em troca de títulos de nobreza - que deixarão de ter o sabor anedótico actual para se tornarem a expressão do reconhecimento público pela ajuda prestada em momentos difíceis.

Mais: porque não poderá o mecenato estender-se à manutenção e amortização de estruturas e serviços como auto-estradas e transportes públicos? Quem se importará de pagar um pouco menos de portagem se, em vez do confuso sistema alfanumérico actual, a A28 passar a ser denominada Via do Grão-Duque Belmiro, ou a A6 Via do Conde Nabeiro?

Pessoalmente, desde que a Metro do Porto se aguente sem aumentar as tarifas, pouco me incomoda que o trajecto de casa até à baixa passe a chamar-se Cavaleiro de Francos - Marquesa do Bolhão...

Há que ser pragmático: a bancarrota não é inevitável, mas o país não é viável sem uma refundação! O V Império dificilmente passará algum dia de uma miragem. Pelo contrário, uma V dinastia pode depender de pouco mais do que a difusão que este escrito conheça...

E se precisamos de mudança!... Aqui d'El-Rei!

(Enviado por um Amigo)

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