O material de
inteligência reunido para provar a culpa do governo sírio pelo suposto uso de
armas químicas foi fabricado por membros da comunidade de espionagem americana
para enganar o presidente Barack Obama e convencê-lo a tomar medida de punição,
segundo Ray McGovern, um veterano da própria CIA (Agência Central de
Inteligência), disse em entrevista à agência de notícias russa RT.
McGovern foi um dos signatários de uma carta de funcionários
veteranos de inteligência entregue a Obama, alertando o mandatário que Bashar
al-Assad não é o responsável pelo suposto ataque com armas químicas, e que “o
diretor da CIA, John Brennan, está cometendo a mesma fraude pré-Iraque sobre os
membros do Congresso, a mídia e o público”.
O veterano disse que o problema é conseguir acesso ao que chamam
de grande mídia. Segundo McGovern, a imprensa está apoiando a guerra e por isso
não quer ouvir que a evidência é muito frágil. “Eles não querem ouvir que pessoas
dentro da CIA, com grande acesso a informações, dizem que não há evidência
conclusiva de que Assad ordenou aqueles ataques químicos. Você não assume
aquelas coisas, você precisa prová-las”, disse.
A razão para que os Estados Unidos não apresentem a prova contra
o regime sírio é porque não poderia ser suportada diante de um tribunal, e não
passaria por um exame minucioso - isso aconteceu antes do Iraque, afirmou
McGovern, que acrescentou que o governo americano precisa divulgar a suposta
mensagem interceptada que provaria a culpa de Assad para calar os críticos.
O ex-analista declarou que o secretário de Estado John Kerry
demonstrou estar sob influência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu – o único Estado que se beneficiaria de uma guerra na Síria, e que
pessoas com influência e conselheiros da Casa Branca tentam convencer Obama a
tomar uma medida.
Para McGovern, a mudança de postura de Washington ao recuar
sobre a possibilidade iminente de um ataque na Síria foi uma conversa de Obama
com os militares, que afirmaram que uma ação militar não poderia ser
justificada tão cedo, e que as pessoas e setores que apoiam a intervenção
militar não têm ideia do que é uma guerra.
Ray McGovern foi analista da CIA durante 27 anos e trabalhou com
sete presidentes, sendo responsável, durante a década de 80, de preparar os
relatórios diários matinais com o material reunido pela agência ao chefe do
governo. McGovern foi um crítico feroz da guerra do Iraque liderada pelo
presidente George W. Bush em 2003.
McGovern tem atuado nos últimos anos como ativista político. Ele
tem um blog na página do cineasta e escritor Michael Moore, um dos mais
ferrenhos críticos do militarismo americano e de grandes corporações do país. O
ex-analista da CIA também trabalha na editora Tell The World, que é ligada a
Igreja da Salvação.
Mais recentemente, também criticou a atuação do governo no
episódio envolvendo o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, responsável
pelo vazamento de documentos secretos. Ele chegou a afirmar na época que o
único crime de Assange fora “divulgar a verdade”.
M. A.
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