O nocaute do império, ou a guerra que acabou no
momento em que começou
Os Estados Unidos atacaram a Síria em 3 de
setembro, mas a Rússia impediu que os mísseis atingissem Damasco. Foi aí que
começou o xeque-mate ao governo Obama e aos neoconservadores belicistas que o
controlam
Eram exatamente 10h16 da manhã de terça-feira, 3 de setembro, quando os radares da estação de Armavir, na Rússia, detectaram "dois objetos balísticos" voando na direção do mar Mediterrâneo. (1) Não demorou muito para o Ministério da Defesa de Israel primeiro negar, mas depois assumir ter testado mísseis usados como alvos para um sistema antimísseis financiado pelos Estados Unidos. Tratava-se apenas de um exercício militar sem maiores consequências: os mísseis caíram no Mediterrâneo e tudo ficou por isso mesmo.
Eram exatamente 10h16 da manhã de terça-feira, 3 de setembro, quando os radares da estação de Armavir, na Rússia, detectaram "dois objetos balísticos" voando na direção do mar Mediterrâneo. (1) Não demorou muito para o Ministério da Defesa de Israel primeiro negar, mas depois assumir ter testado mísseis usados como alvos para um sistema antimísseis financiado pelos Estados Unidos. Tratava-se apenas de um exercício militar sem maiores consequências: os mísseis caíram no Mediterrâneo e tudo ficou por isso mesmo.
O assunto continuaria assim, encerrado, se o
jornalista Daoud Rammal, do jornal libanês As-Safir, não tivesse veiculado uma
notícia que, de tão importante, foi republicada por outro jornal libanês, o
Al-Manar. (2) Rammal revelou que uma fonte diplomática bem-informada
contou a verdadeira história do lançamento dos dois mísseis na manhã de 3 de
setembro.
Segundo essa fonte, eles saíram de uma base
militar da OTAN situada na Espanha e foram detectados de imediato pelos radares
russos, que cobrem uma vasta área, da Europa ao Irã. Esse foi o primeiro
movimento do ataque militar dos Estados Unidos à Síria, uma guerra que teria
sido iniciada na manhã daquele 3 de setembro caso não existisse uma
"pedra" - ou melhor, um eficaz sistema antimísseis - no meio do caminho:
o da Rússia.
O sistema de defesa russo interceptou os dois
mísseis estadunidenses, impedindo que atingissem Damasco, a capital síria. Um
deles explodiu no ar e outro foi desviado para o mar. A explicação dada por
Israel não passou de cortina de fumaça para proteger seu maior aliado, os
Estados Unidos - que, de acordo com o diplomata, pediu o favor às autoridades
israelenses.
Naquela manhã, o ministro da Defesa russo deu
uma declaração pública omitindo dois pontos fundamentais: de onde tinham vindo
os mísseis e para onde se dirigiam. Essa omissão teve dois objetivos, disse o
chefe de inteligência russo a seu colega estadunidense numa comunicação feita
um momento depois de o ataque contra a Síria ter sido lançado - e interceptado.
"Atacar Damasco é atacar Moscou", disse o oficial russo.
"Omitimos a verdade em nossa declaração oficial para preservar as relações
entre nosso país e os Estados Unidos e para evitar a guerra. Portanto, vocês
devem reconsiderar agora mesmo suas políticas, abordagens e intenções em
relação à crise síria, assim como podem estar certos de que não conseguirão
eliminar nossa presença no Mediterrâneo."
Foi nesse momento que o governo dos Estados
Unidos pediu que Israel se responsabilizasse pelo lançamento dos foguetes - e
que, literalmente, perdeu o chão. Obama estava certo de que renderia Bashar
al-Assad, presidente da Síria, e pretendia ir ao G20, na Rússia, para negociar
com Vladimir Putin o destino de Assad. Em vez disso, foi obrigado a pedir o
apoio das nações presentes ao encontro para atacar a Síria, quando, na verdade,
sabia que isso não o livraria do xeque-mate russo. Cientes do episódio no
Mediterrâneo, os aliados de sempre negaram ajuda aos Estados Unidos, e o
Parlamento britânico se colocou contra a aliança David Cameron-Barack Obama
para intervir militarmente na Síria.
A estratégia russa provocou total confusão no governo estadunidense, que ficou sem saber o que fazer. Sem apoio internacional e com os sistemas de defesa russos impedindo que seus mísseis alcançassem a Síria, os Estados Unidos entrariam numa guerra perdida de antemão. Mas, se não entrassem, teriam sua imagem abalada com o não cumprimento da promessa de declarar guerra à Síria pela ultrapassagem da "linha vermelha", representada por um ataque com armas químicas que o governo sírio não realizou e que, hoje, é alvo de dúvidas sobre se realmente aconteceu nas proporções em que os Estados Unidos afirmam que aconteceu.
A estratégia russa provocou total confusão no governo estadunidense, que ficou sem saber o que fazer. Sem apoio internacional e com os sistemas de defesa russos impedindo que seus mísseis alcançassem a Síria, os Estados Unidos entrariam numa guerra perdida de antemão. Mas, se não entrassem, teriam sua imagem abalada com o não cumprimento da promessa de declarar guerra à Síria pela ultrapassagem da "linha vermelha", representada por um ataque com armas químicas que o governo sírio não realizou e que, hoje, é alvo de dúvidas sobre se realmente aconteceu nas proporções em que os Estados Unidos afirmam que aconteceu.
Mais uma vez a Rússia, dessa vez acompanhada
pela Síria, se mobilizou para tirar o governo estadunidense do limbo. A
proposta da colocação do arsenal químico sírio sob controle internacional, para
posterior destruição, foi o gongo que salvou Obama da lona. Mas, obviamente,
não evitou o nocaute. Por isso o presidente dos Estados Unidos baixou o tom, mandou
John Kerry à mesa de negociações com o russo Sergey Lavrov e tratou de acalmar
os ânimos dos congressistas que queriam votar a favor da guerra contra a Síria.
Agora falta decidir o que fazer com os países
que insistem em continuar armando os milhares de mercenários terroristas que
lutam contra o povo sírio e que não vão aceitar, de uma hora para outra, a
perda do emprego. Também falta decidir como retomar as armas químicas que foram
entregues a eles e que são um risco potencial para o mundo. Sobretudo falta
convencer os sionistas de Israel e dos Estados Unidos de que o belicismo não
leva a nada. Como mostrou Pepe Escobar em seu artigo de ontem no Asia Times
Online (3) enquanto os sionistas e seus aliados tiram o sono do mundo para
tomar à força as riquezas do Oriente Médio, a China vai tecendo uma megazona de
livre-comércio na antiga rota da seda, rica em óleo e gás, com parceiros como
Rússia e Irã. Sem disparar um único tiro.
Em tempo: Vladimir Putin, presidente da Rússia, é mestre de xadrez, e considerado um dos mais brilhantes.
.
(1) (http://br.reuters.com/ article/worldNews/ idBRSPE98202420130903)
(2) (http://www.almanar.com.lb/ english/adetails.php?eid= 110043&cid=31&fromval=1&frid= 31&seccatid=71&s1=1)
(3) http://www.atimes.com/atimes/ Middle_East/MID-04-130913.html (em
português, http://goo.gl/KQc0bt)
Em tempo: Vladimir Putin, presidente da Rússia, é mestre de xadrez, e considerado um dos mais brilhantes.
.
(1) (http://br.reuters.com/
(2) (http://www.almanar.com.lb/
(3) http://www.atimes.com/atimes/
A.G.
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