Resgate
ao país aprovado pelo Eurogrupo inclui taxa sobre todos os depósitos e já foram
dadas ordens para bloquear essa verba.
Os cipriotas acordaram na manhã deste sábado com a notícia do
resgate financeiro ao seu país, que implicará a aplicação de um imposto
extraordinário a todos os depósitos bancários. A população tentou nas sucursais
e nos sites dos bancos levantar o dinheiro, mas as contas já estavam bloqueadas
desde que a decisão do Eurogrupo foi tomada.
Aumento dos impostos sobre as empresas, que podem chegar aos
12,5%, e um imposto extraordinário de 9,9 % sobre os depósitos acima dos
100.000 euros e de 6,7 % para os valores abaixo são algumas das medidas acordadas pelos ministros da Economia
e das Finanças da zona euro para o resgate financeiro a Chipre, que
atingirá os 10.000 milhões de euros.
Após
uma reunião de dez horas de negociações que terminou na madrugada deste sábado,
o grupo de 17 países acordou um pacote de medidas em que se destaca a inclusão
dos depósitos bancários no apoio ao financiamento do país. O imposto sobre os
depósitos será aplicado não sobre os juros, mas sim sobre o capital. O que
significa que um cipriota ou um cidadão de outro país que tenha 101 mil euros
num banco de Chipre, perderá de forma imediata dez mil euros, exemplifica o
jornal El Mundo.
A
população desta ilha do Mediterrâneo foi apanhada de surpresa pela decisão, que
recebeu com preocupação e raiva. Logo nas primeiras horas da manhã muitos
cipriotas, em pânico, dirigiram-se para os poucos balcões dos bancos que se
encontram abertos neste sábado para tentar levantar o máximo de dinheiro
possível, descreve o mesmo jornal. Mas as instituições já tinham cumprido a
ordem de bloquear em cada conta a percentagem que irá reverter para a
recuperação do país, fecharam as portas e bloquearam as movimentações de contas
online. Nos multibancos fizeram-se também filas, sendo que as máquinas só
permitem o levantamento de máximo de 1000 euros por dia. Mesmo nestes casos as
pessoas depararam-se com uma verba já cativa.
O
encerramento surgiu depois de o director-geral do Banco Central de Chipre ter
dado ordens para que a decisão do Eurogrupo fosse cumprida de imediato. “Temos
de nos conformar com a decisão”, explicou Erotocritos Jlorakiotis,
acrescentando que a sua própria instituição aguarda mais detalhes sobre o
acordo de Bruxelas, depois do primeiro pedido feito pelo país em Junho e ainda
antes da eleição de um novo Presidente de direita.
“A mais dolorosa
das soluções”
“Chipre escolheu a mais dolorosa das soluções”, assegurou o ministro cipriota das Finanças, Michalis Sarris, citado pela AFP, mas recordando que a alternativa era o país entrar num cenário de bancarrota, em que se perderia muito mais dinheiro. O mesmo governante tinha dito há dez dias que uma taxa sobre os depósitos seria “catastrófica” para o país. Mas agora vão conseguir arrecadar 5800 milhões de euros com esta medida. E adiantou também que os depositantes receberão acções do banco no valor equivalente ao que vão perder nos depósitos, mas não avançou até quando vigorará a medida.
Para
evitar uma corrida aos levantamentos de dinheiro, já que este tipo de medidas
implica um risco de fuga de capitais e cruza a linha que o Eurogrupo tinha dito
que não ultrapassaria, o Governo cipriota deverá aprovar no domingo uma lei a
proibir o levantamento de parte dos depósitos bancários a partir de
terça-feira, já que segunda-feira é feriado no país. No entanto, por precaução,
as instituições bancárias receberam instruções para garantir que online e nas
agências abertas ao sábado não seriam feitas excepções.
"É
uma catástrofe", resume um cipriota de 45 anos à AFP, depois de sair de
uma caixa de levantamento automático. “Isto vai dar-nos vontade de sair do
euro”, acrescentou um reformado. A preocupação é extensível às empresas, com um
empresário belga a trabalhar em Chipre a assegurar que “se a medida for
aplicada às sociedades” resta-lhes abrir falência.
Muitos depósitos de
estrangeiros
Segundo a Reuters, estima-se que entre um terço e metade dos depósitos nos bancos cipriotas pertençam a russos e britânicos não residentes, mas que optaram por ali colocar o dinheiro devido às boas condições que o país oferecia. Aliás, o país tem sido criticado por atrair dinheiro com base em impostos reduzidos, promovendo evasão fiscal.
“Eu
estou muito zangado. Trabalhei anos e anos para juntar o que tenho e agora
estou a perder o dinheiro por ordem dos alemães e holandeses”, disse à Reuters
Andy Georgiou, de 54 anos, que regressou em 2012 a Chipre depois de ter
trabalhado no Reino Unido. “Dizem que a Sicília é a ilha da máfia. Não é a
Sicília, é Chipre. Isto é pura e simplesmente um roubo”, insistiu um
pensionista.
Pelo
seu lado, o porta-voz do Governo Christos Stylianides apelou à calma,
assegurando que “a situação é grave mas não trágica e não há qualquer razão
para entrar em pânico”. Uma visão que é rejeitada pelo deputado do partido Diko
(centro-direita) Nicolas Papadopoulos, que apoiou a eleição de Fevereiro do
actual Presidente, e que fala num acordo “desastroso” para o sistema bancário,
um pilar da economia do país. “Antes pensava que qualquer solução seria má para
Chipre, mas esta é um pesadelo”, acrescentou.
Este
é o quinto programa de assistência financeira na zona euro, depois dos da
Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha (neste caso centrado apenas no sector
bancário). Apesar de o Produto Interno Bruto de Chipre representar apenas 0,2%
da zona euro, o comissário dos Assuntos Económicos e Monetários da União
Europeia, Olli Rehn, sublinhou que a falência do país seria “relevante para
todo o sistema”.
=Público=
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