O British
Museum inaugura quinta-feira a exposição Vida e Morte em Pompeia e
Herculano, uma visita guiada ao quotidiano do Império Romano sepultado
sob as cinzas do vulcão Vesúvio.
Um fragmento
de fresco de Estilo
Uma pintura de parede retratando um casal – o marido
identificado como o padeiro Terentius Neo; uma bracelete de ouro em forma de
cobra; um berço de bebé em madeira carbonizada; meia dúzia de outras peças de
mobiliário; relevos em mármore representando cenas da vida real e da mitologia
romana... Mas também os cadáveres de uma família (os pais e duas crianças) sob
as escadas de sua casa numa posição em que se adivinha o pânico pela
aproximação da morte; o cadáver de uma mulher em que se vêem ainda os ossos; ou
a icónica “escultura viva” de um cão contorcendo-se de dor...
Todos nós já vimos essas imagens da “morte em directo”, que uma
imprevista erupção do vulcão Vesúvio gravou nos corpos dos habitantes e no chão
das cidades de Pompeia e Herculano, no Sul de Itália, nesse dia trágico do
Verão do ano 79 d.C. –, um quadro que depois ficaria escondido sob as
cinzas e o esquecimento, até que seria redescoberto com
as escavações iniciadas em meados do século XVIII, e que se vêm
desenvolvendo até à actualidade. Uma perspectiva diferente dessa catástrofe é
agora mostrada no Museu Britânico, em Londres, na exposição Vida
e Morte em Pompeia e Herculano, que é inaugurada esta quinta-feira
e poderá ser visitada até 29 de Setembro.
Ainda
que as imagens da morte e do sofrimento sejam incontornáveis na exposição,
o museu quis pôr a tónica na vida quotidiana de Pompeia e Herculano e, por
extensão e paralelismo, nas cidades do Império Romano dessa época. “A exposição
terá como foco principal um olhar sobre a casa romana e sobre as pessoas que as
habitavam nessas cidades desditosas”, diz o texto de apresentação da mostra,
que tem como comissário Paul Roberts, responsável pelas colecções romanas do
museu londrino. “Nós sabemos que para algumas pessoas a ideia da morte será o
aspecto mais desafiador da exposição”, diz o comissário, assinalando, no
entanto, a preocupação de abordar essa vertente com um grande respeito.
“Trata-se de pessoas que foram reais”, e esta exposição só existe “porque elas
morreram”, realça Paul Roberts.
A
exposição em Londres reúne 250 artefactos que foram cedidos, “de forma
extremamente generosa”, pelos responsáveis pelos Centros Arqueológicos de
Nápoles e de Pompeia e de outras instituições italianas, salientou ao jornal The
Guardian o director
do museu, Neil MacGregor, que apresentou a exposição como a maior do programa do
museu para 2013.
A
mostra surge pouco mais de dois anos após uma sucessão de desabamentos em
Pompeia motivados pelo mau tempo de Dezembro de 2010, que puseram em risco
este sítio classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, e deram
origem a muitas críticas à política do património do Governo então
liderado por Silvio Berlusconi. No passado mês de Fevereiro, a Justiça italiana
abriu mesmo uma investigação acusando os responsáveis por aquela zona
arqueológica de má gestão de fundos.
“Este
evento majestoso permitirá – espera-se – lembrar ao mundo que Pompeia não é uma
atracção turística que se deva tratar com negligência, mas antes o mais
revelador memorial do passado da humanidade”, escreve sobre a exposição
Jonathan Jones no The Guardian. O crítico de
arte acrescenta: “A razão por que Pompeia e Herculano nos fascinam não é tanto
pela preservação de todo um mundo no momento da sua extinção maciça, mas a
forma misteriosa como esse mundo nos reflecte a nós próprios”.
De
facto, o alinhamento de objectos, artefactos e testemunhos que fazem a
exposição documenta aquilo que era a vida quotidiana no Império Romano nesses
anos de apogeu, quando o imperador Tito Flávio – o mesmo que inaugurou o
Coliseu de Roma – governava um vasto território que ia desde o Egipto até às
lhas Britânicas.
Pompeia
e Herculano eram à data da tragédia do Vesúvio duas terras florescentes na
região da Campânia. “Entre uma combinação de escravatura e engenharia
hidráulica, os romanos livres viviam como nós, no nosso tempo, rodeados de bens
de consumo e conforto engenhoso”, descreve Jonathan Jones, a realçar o carácter
inesperadamente didáctico da exposição. Ou seja, eram duas cidades normais,
subitamente vitimadas por um acontecimento extraordinário.
Dentro
dessa normalidade, estava também a realidade do sexo, tendo sido descobertos
testemunhos e referências a várias dezenas de bordéis – um deles, preservado
intacto, foi descoberto nas escavações de 1752, na Vila dos Papiros de
Herculano, tendo depois sido trasladado para o Museu Arqueológico de Nápoles,
onde só seria aberto ao público no ano... 2000.
Uma
estátua do deus Pan tendo relações sexuais com uma cabra, ou uma
pintura mostrando um homem e uma mulher experimentando uma nova posição sexual,
enquanto um escravo espera à porta, são dois exemplos de representações da vida
sexual na exposição, que Jonathan Jones descreve como “um encontro com uma
sociedade miraculosamente imperfeira e fascinante, com sexo e morte, com o
épico humano que era Roma”.
=Público=
Sem comentários:
Enviar um comentário