Como a morte de Osama Bin Laden influenciou a
incidência de doenças graves e a mortalidade de crianças e adultos?
Parece uma pergunta com apenas duas possíveis respostas. Ou aumentaram a guerra, os conflitos e as bombas no Oriente Médio, em decorrência da ação militar que o matou e assim muitas pessoas atingidas diretamente foram mortas. Ou o desfecho de Bin Laden não teve absolutamente nada a ver com a saúde dos cidadãos daquela região. Infelizmente, existe uma terceira realidade que foi recentemente constatada e descrita, e que alertou e preocupou autoridades em saúde pública e especialistas ao redor do mundo.
Em artigo publicado na The New England
Journal of Medicine, a revista médica mais respeitada da área, dois cientistas
americanos do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Columbia, Nova
York, e do Departamento de Emergência Médica de Harvard, Boston, os doutores L.
F. Roberts e M. J. VanRooyen lançaram um alerta dirigido ao presidente Barack
Obama. Clamam por neutralidade humanitária na área de saúde pública. A razão é
muito clara. Na sua campanha para caçar Bin Laden, os militares americanos e os
serviços de inteligência forjaram uma campanha de vacinação falsa. A CIA
contratou um médico paquistanês, doutor Afridi, para ir de casa em casa com o
propósito de vacinar as famílias. Também aproveitava para coletar pequenas
amostras de sangue.
O secretário de Defesa americano Leon Panetta
confirmou que a atuação de Afridi foi importante para chegar a Bin Laden.
Afridi foi preso e sentenciado a 33 anos de prisão. Os problemas de saúde
pública logo surgiram. O Paquistão expulsou os médicos e paramédicos
estrangeiros envolvidos no programa Save the Children (Salvem as Crianças) que
atuavam na região, suspeitos de trabalharem para a CIA. Alguns foram
assassinados. Como resultado, a campanha de vacinação foi interrompida em
províncias onde anualmente morrem mais de 100 mil crianças infectadas por
doenças de fácil prevenção com vacinas disponíveis.
Em 6 de janeiro de 2013, reitores indignados
de 12 universidades e faculdades de Saúde Pública americanas enviaram carta
aberta ao presidente Obama, protestando contra a conduta dos serviços militares
e de inteligência, que resultou em comprometimento de programas sérios de ajuda
humanitária à população necessitada daquela região. Recomendaram fortemente que
o governo americano suspendesse as ações militares disfarçadas de atividades de
saúde pública. A seguinte frase da carta de protesto foi transcrita no artigo
acima citado. “O trabalho de Saúde Pública Internacional constrói a paz e
representa um dos meios mais positivos em que estudantes de Saúde Pública, no
passado, presente e futuro, perseguem uma vida de serviço e de satisfação.
Por favor, não permita que a porta do bem
comum lhes seja fechada, por causa de interesses políticos e/ou de segurança
que ignoram os tipos de impactos negativos sobre a saúde pública, como estes
testemunhados no Paquistão.”
Os autores lamentam que ações como essas
tornaram cada enfermeiro com seringa na mão um espião em potencial, cada
ambulância ou avião de carga um transporte disfarçado de tropas.
Milhões de
pessoas ficam obviamente excluídas de ações humanitárias urgentes, sem relação
alguma com credo ou nacionalidade. A política pode ser mais letal do que as
próprias bombas, as guerras ou os conflitos. E as crianças são as primeiras
vítimas. Sempre…
S. S.
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