Homem
prevenido – Apesar dos escárnios que têm marcado o cotidiano do planeta, a
semana começou bombástica com a notícia da renúncia do papa
Bento XVI, que deixará o comando da
Igreja Católica no próximo dia 28 fevereiro, segundo informações divulgadas
pela imprensa internacional. Como destacou o competente jornalista Oscar
Andrades em seu blog, o alemão Joseph Ratzinger não é o primeiro a deixar o papado.
“O último Sumo Pontífice a renunciar foi Gregório XII, em 1415. Bento XVI é o
quarto Papa a renunciar ao cargo”, escreveu Andrades. A renúncia de um papa
está prevista no Código de Direito Canônico, que estabelece, neste caso, que
basta que a renúncia seja de livre e espontânea vontade para ter validade, sem
a necessidade da aceitação de terceiros.
Diversos foram os
motivos alegados pelos representantes do Catolicismo, mas nenhum convenceu.
Bento XVI teria alegado problemas de saúde e desacordo com algumas condutas
sociais, como casamento entre pessoas do mesmo sexo e a necessidade de esses
casais adotarem filhos, mas a realidade é outra. O assunto é tratado aos
sussurros nos corredores da Santa Sé, como acontece há décadas.
Uma coisa é a
religião católica, outra é o Vaticano, que é um Estado. E como tal tem suas
mazelas, seus subterrâneos, suas podridões. O grande fantasma que assombra os
frequentadores do Vaticano é o envolvimento com o submundo do crime. Por certo
muitos católicos partirão contra este noticioso, mas não será novidade porque
já tratamos do tema em diversas ocasiões e sofremos retaliações. Só não
aceitamos deixar de revelar mais uma vez a verdade dos fatos, a qual o editor
tem profundo conhecimento, pois acompanhou, na Itália, a chegada ao comando do
Vaticano do arcebispo Albino Luciani, o papa João Paulo I, com o qual conversou
longamente em Milão, antes de o religioso se tornar a máxima autoridade do
Catolicismo.
Há longas décadas
sob o controle da Opus Dei, facção ultradireitista do Catolicismo, o Vaticano
foi alvo, no início dos anos 80, de um dos maiores e mais sórdidos escândalos
de corrupção da história. O papa João Paulo I tentou, em vão, acabar com o fim
da corrupção que grassava na Praça São Pedro e envolvia o Banco Ambrosiano, instituição
financeira da qual o Banco do Vaticano tinha boa quantidade de ações. Luciani
acabou morto 33 dias após ser escolhido papa. O serviço de comunicação do
Vaticano informou que Luciano fora alvo de um infarto, mas a história da
Medicina não tem qualquer registro sobre a aparência esverdeada de uma pessoa
após ataque cardíaco.
Homem correto e de
conduta ilibada, Luciani, que tentou acabar com a lavanderia financeira em que
se transformara o Banco Ambrosiano, instituição financeira oficial da Santa Sé.
Deu-se muito mal, pois lá atuava não apenas a banda podre do Catolicismo, como
a máfia turca e a loja maçônica italiana P2, morreu envenenado por causa de
cianureto adicionado ao regular e tradicional chá que tomava todas as tardes.
Por ocasião dos
fatos, o editor do ucho.info investigou a sequência de crimes que tinha o
Vaticano como pano de fundo. Além de chegar à verdade, disparou a ira dos
envolvidos e enfrentou a truculência de muitos. O Colégio Romano, apêndice do
Vaticano, seguia a mesma ordem dada à época para todas as comunidades católicas
do planeta: silêncio obsequioso. Perseguido durante alguns anos após o
episódio, o editor deixou a Itália da noite para o dia para não acabar como o
cardeal Luciani, que tentou, sem sucesso, promover uma faxina na Praça São
Pedro. Mesmo de volta ao Brasil, foi duramente perseguido durante muitos meses.
Luciani foi
substituído no cargo pelo polonês Karol Józef Wojtyla, o papa João Paulo II,
que desavisado tentou a mesma empreitada do antecessor. Liquidar as relações
criminosas entre o Banco Ambrosiano, a P2 e a máfia turca. Inocente, João Paulo
II foi alvejado, em plena Praça São Pedro, por tiros disparados pelo turco
Mehmet Ali Agca. Na esteira do escândalo do Banco Ambrosiano, alguns dos
envolvidos acabaram assassinados ou se suicidaram.
João Paulo II não
apenas continuou no cargo até a morte, mas após recuperar-se dos ferimentos
provocados pelo atentado visitou e perdoou o seu algoz, Ali Agca, que depois de
anos de prisão voltou para a Turquia.
Joseph Ratzinger não
é um ignaro. Ciente do que acontece diuturnamente nas coxias da Santa Sé,
preferiu anunciar a sua saída, justificada por razões pouco convincentes, mas
que se dará também à sombra do silêncio, pois meso com a idade avançada o ainda
papa espera viver em paz e não acabar como Albino Luciani.
Ratzinger não
chegou ao comando do Vaticano sem saber o que por lá acontecia. Por trás da
Praça São Pedro – visitada e fotografada por milhões de turistas de todas as
partes – funciona uma central de branqueamento de capitais e uma organização
criminosa sem escrúpulos e com tentáculos em todos os cantos do planeta.
A luz vermelha no
reduto de Bento XVI acendeu de vez quando, no começo de 2012, vazou o conteúdo
da carta enviada pelo arcebispo Carlo Maria Viganò ao papa. Na missiva que
tinha a Praça São Pedro como destino, Viganò, que foi secretário-geral do
governorado do Vaticano, afirmou que na Santa Sé “trabalham as mesmas empresas,
ao dobro (do custo) de outras de fora, devido ao fato de não existir
transparência alguma na gestão dos contratos de construção e de engenharia”. A
assessoria papal agiu de forma automática diante do episódio e afirmou, em
comunicado, que as denúncias resultavam de “avaliações incorretas”.
Atual núncio da
Santa Sé nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò destacou na carta: “Jamais
teria pensado em me encontrar diante de uma situação tão desastrosa”, que
apesar de ser “inimaginável, era conhecida por toda a Cúria”. Além disso, o
denunciante afirma que banqueiros que integram o chamado Comitê de Finanças e
Gestão se preocupam muito mais com os próprios interesses do que com os do
Vaticano, lembrando que em dezembro de 2009 “queimaram US$ 2,5 milhões” em uma
operação financeira.
A situação
tornou-se ainda mais embaraçosa com a prisão do mordomo do papa, o italiano
Paolo Gabriele, acusado de desviar cartas e documentos sigilosos de Bento XVI e
seus colaboradores que acabaram publicados em livro.
A prisão de
Gabriele foi anunciada pelo porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, no mesmo
dia em que o presidente do Instituto das Obras da Religião (IOR), o banco do
Vaticano, foi forçado pelo conselho de supervisão a demitir-se. E na mesma
semana em que um livro publicado na Itália divulgava cartas e documentos
sigilosos enviados ao Papa, ao seu secretário e a responsáveis do Vaticano, com
o objetivo de “expulsar os vendilhões do templo”.
Por maior que fosse
a proximidade de Paolo Gabrieli com o papa – ele era o primeiro e o último a
ver Ratzinger todos os dias – o vazamento de documentos do Vaticano não foi uma
operação solitária. Foi um plano arquitetado por um punhado de clérigos
intransigentes com o banditismo religioso, mas que enfrentou a dura e criminosa
resistência da quadrilha que atua no Vaticano, que é muito maior e mais
poderosa do que se imagina.
Ao chegar ao posto
máximo da Igreja Católica, Bento XVI encontrou uma situação de devassidão e
crimes que seu raciocínio cartesiano, típico dos alemães, jamais compreenderá.
Instalado no cargo, Bento XVI começou a seguir a agenda de compromissos
oficiais, ao mesmo tempo em que preparava uma nova tentativa de faxina. Ao
perceber que sua incursão seria fracassada, como as tentadas por seus
antecessores, Ratzinzger preferiu sair de cena. Foi prudente e tomou a decisão
acertada.
O crime organizado
continuará atuando nos bastidores do Vaticano, pois assim funciona desde Pio
XII, mas isso não invalida os fundamentos cristãos e muito menos o que pregou
Jesus de Nazaré. O problema está na existência tumoral dos operadores do
Catolicismo.
A. P.
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