Leandro Fortes, no Facebook
Primeiro de tudo: foi um
erro dos manifestantes baianos impedir a exibição do documentário, ou seja lá o
que for aquilo, do tal cineasta de Jequié, Dado Galvão, em Feira de Santana.
Não que eu ache que dessa película poderia vir alguma coisa que preste, mas
porque praticar sua arte – seja genial, banal ou medíocre – é um direito
inalienável de qualquer cidadão brasileiro.
Ao impedir o documentário,
os manifestantes estão ajudando a consolidar a tese adotada pela mídia de que
os que são contra a blogueira Yoani Sanchez são, apenas, a favor da “ditadura”
cubana. Fortalece, pois, esse reducionismo barato ao qual a direita
latino-americana sempre lança mão para discutir as circunstâncias de Cuba.
Minha crítica aos
manifestantes, contudo, se encerra por aqui.
De minha parte, acho ótimo
que tenha gente disposta a se manifestar contra Yoani Sanchez, uma oportunista
que transformou dissidência em marketing pessoal. Não vi ainda nenhuma matéria
que informe ao distinto público quem está pagando a turnê de Yoani por 12 (!)
países – passagens aéreas, hospedagens, traslados, alimentação, lazer, banda
larga e direito a dois acompanhantes, o marido e o filho.
Nem a Folha de S.Paulo, que até em
batizado de boneca do PT pergunta quem pagou o vestido da Barbie, parece
interessada nesse assunto. E eu desconfio por quê.
Yoani Sanchez é a mais nova
porta-bandeira da liberdade de expressão em nome das grandes corporações de
mídia e do capital rentista internacional. É a direita com cara de santa,
candidata a mártir da intolerância dos defensores da cruel ditadura cubana, a
pobre coitada que tentou, vejam vocês, 20 vezes sair de Cuba para ganhar o
mundo, mas só agora, que a lei de migração foi reformada na Ilha, pode viver
esse sonho dourado. Mas continuo intrigado. Quem está pagando?
A mídia brasileira,
horrorizada com as manifestações antidemocráticas em Pernambuco e na Bahia, não
gosta de lembrar que a atormentada blogueira morou na Suíça, apesar de ter
tentado sair de Cuba 20 vezes, nos últimos cinco anos: 20 vezes!
Façamos as contas: Yoani
pediu para sair de Cuba, portanto, quatro vezes por ano, de 2006 para cá. Uma
vez a cada três meses. Mas, antes, conseguiu ir morar na Suíça. Essa
“ditadura” cubana é muito louca mesmo.
Mas, por que então a
blogueira dissidente e perseguida abandonou a civilizada terra dos chocolates
finos e paisagens lúdicas de vaquinhas malhadas pastando em colinas
verdejantes? Fácil: nos Alpes suíços, Yoani Sanchez poderia blogar a vontade,
denunciar a polícia secreta dos Castros e contar ao mundo como é difícil
comprar papel higiênico de qualidade em Havana – mas de nada serviria a seus
financiadores na mídia, seja a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que
lhe paga uma mesada, ou o Instituto Millenium, no Brasil, que a tem como
“especialista”.
Então, é preciso fazer
Yoani Sanchez andar pelo mundo. Fazê-la a frágil peregrina da liberdade de
expressão, curiosamente, financiada pelos oligopólios de mídia que representam,
sobretudo na América Latina, a interdição das opiniões, quando não a
manipulação grosseira, antidemocrática e criminosa da atividade jornalística,
em todos os aspectos.
É preciso vendê-la como
produto “pró-Cuba”, nem de direita, nem de esquerda – aliás, velha lenga-lenga
mais que manjada de direitistas envergonhados. Pena Yoani ter-se atrasado nessa
missa: Gilberto Kassab, com o PSD, e Marina Silva, com a Rede (Globo?), já se
apropriaram, por aqui, dessa fantasia não-tem-direita-nem-esquerda-depois-da-queda-do-muro-de-Berlim.
No mais, se a antenada
blogueira cubana tivesse ao menos feito um Google antes de embarcar para o
Brasil, iria descobrir:
1. Dado Galvão, apesar de “colunista
convidado”do Instituto Millenium, não é ninguém. Ela deveria ter colado em
Arnaldo Jabor.
2. Eduardo Suplicy é a Yoani do PT.
3. Em Pernambuco não tem só frevo.
4. E na Bahia não tem só axé.
T. M.
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