No
meu tempo de jovem, em plena ditadura, entre as correntes que,
clandestinamente, se opunham ao regime militar de exceção, um grupo delas
defendia a tese do “quanto pior melhor”, argumentando que o endurecimento do
regime militar acabaria por provocar reações cada vez mais fortes dos
brasileiros, tudo culminando, assim, com a derrubada dos usurpadores do poder.
A tese era questionada, a meu ver corretamente, por outros segmentos de
contestação ao governo, que entendiam que esse cenário apenas provocaria um
número maior de mortes e torturas, sem a imaginada contrapartida. Na verdade,
em situações desse tipo, a corda sempre costuma arrebentar do lado mais
fraco...
Ironicamente,
essa tese é hoje - sem grandes sutilezas, em contexto totalmente diverso e com
propósitos nem um pouco meritórios - defendida pelo pessoal da direita, que
torce por um aumento da crise mundial, acreditando que esse será um caminho
fértil para a retomada do poder que perderam em nosso país. Basta prestarmos
atenção às declarações dos políticos representados por tucanos e outros bichos,
e da mídia que os amplifica. É um tal de “a não ser que a crise aumente” e
coisas do gênero como indisfarçável condicionante sonhada de uma diminuição do
prestígio de Dilma, e sua consequente derrota eleitoral. Essa turma sabe que os
partidos fisiológicos – esses que, nem de direita nem de esquerda , se atrelam
ao poder pelo poder, qualquer que seja ele – estão sempre dispostos a abandonar
o barco se as tempestades econômicas criarem indesejáveis turbulências.
Tendo
como programa a defesa dos interesses de mercado e da manutenção dos seculares
privilégios de classe, a atual oposição , qual o personagem Urubulino, criado
por Chico Anysio, procura sempre enxergar o lado ruim de qualquer situação
positiva que aponte para uma melhora do quadro social e diminuição das
desigualdades. Urubulino era uma figura soturna que, na profissão de
papa-defuntos, disseminava o pessimismo, alimentando-se dele. É isso que faz
esse pessoal, com o uso sistemático do “mas” como instrumento de desqualificação,
como várias vezes já fizemos menção neste espaço. Recentemente, quando se
comemorava o fato de que o Brasil alcançava mínimos índices de desemprego, os
menores apurados no pais desde que se colhem tais dados, uma economista-ícone
da mídia global, não podendo deixar de reconhecer o fato, alertava para os
perigos de “se diminuírem os estoques de mão de obra”, assim mesmo, com essa
expressão que coisifica os trabalhadores, dentro do jargão mercadológico.
Os
falsos seguidores de Hardi Ha Ha, a hiena do Hanna Barbera que vivia
identificando o azar em todos os dias e que usava o bordão “Isso não vai dar
certo” , anseiam pelo aumento da crise, valendo-se de suas posições de
“especialistas” para plantar o negativo. Misturam deliberadamente o cenário
nacional com os problemas do capitalismo mundial em sua atual versão comandada
por especuladores desatinados e irresponsáveis que levaram e continuam levando
o planeta à beira do abismo. Tentam levar os brasileiros mal informados a uma
identificação incorreta. Pensam em responsabilizar o governo Dilma se a crise
chegar ao nosso país.
Não é
possível imaginar postura mais perversa do que a ostentada por esses
brasileiros , que não hesitam em procurar denegrir os avanços do país e não têm
qualquer pudor em aliar-se a interesses contrários aos do povo. Não falo de um
ufanismo vazio, mas de um crescimento da sociedade, como um todo. Um exemplo
recente dessa oposição sabotadora: quando o Governo acena com a diminuição do
valor das contas de luz, as empresas ligadas aos tucanos – alegando a defesa de
interesses restritos de acionistas e insensíveis ás necessidades do cidadão
comum - recusam-se a participar...Penso que essa é uma postura emblemática do
liberalismo.
O
fato é que eles anseiam pela carniça de que se alimentarão, se não tivermos
como escapar da crise tão decantada. Qualquer coisa vale para a queda de Dilma,
sua não reeleição.
E têm
representantes fiéis na grande mídia e no grande judiciário... Assim, esperam
que a crise, se vier, não os atinja, confiantes, como sempre, de que os que têm
gordura para perder se darão melhor do que os menos favorecidos (e não vai aqui
nenhuma alusão ao milionário Ronaldo , no seu emagrecimento global) . Afinal,
com raras exceções, não tem sido assim desde que o mundo é mundo?
Elitistas
por vocação, almejam pela volta dos privilégios integrais, que consideram foram
encurtados com projetos como a bolsa-família, no nível mais baixo, ou com o
aumento do poder aquisitivo da nova classe média, que ocupa sem reverência os
corredores dos supermercados e os espaços de condomínios e aeroportos...
Como
tudo que essa turma tem defendido e feito ultimamente, pode ser que estejam
dando um novo tiro no pé. Se a crise vier e gerar o fim dos sonhos de quem
acreditou em um país mais justo, não sei se alguém poderá comemorar.
Pode ser
que ela seja bem maior do que desejam os abutres hipócritas. Mas, já que hoje
estão defendendo o “quanto pior melhor”, pode ser que ela provoque, pela
retrocesso das conquistas sociais e pela ausência de amortecedores , uma
vigorosa reação daqueles que vierem a ter podadas as esperanças e expectativas
semeadas nos últimos anos... Quem quiser, que pague para ver...
T. M.
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