Sugiro a nossa ilustre visitante Yoani Sanchez, brava
defensora do direito de expressão dos grandes monopólios midiáticos, que
interceda junto ao governo norte-americano pela vida e pelo direito de
expressão do soldado Bradley Manning.
Izaías Almada, via Carta Maior
21 de fevereiro de 1848. Nessa data se publicou o Manifesto
Comunista. Há 165 anos. Nele, Marx e Engels dão o diagnóstico fúnebre da
monarquia e da religião, estas suplantadas por uma nova ordem econômica, o
capitalismo, e identificando a burguesia como a nova classe social opressora.
Curioso o movimento pendular da História. Um século e meio depois o mundo
vive, ao que parece, em nova crise de identidade, de transformação econômica
onde, com esforço, impaciência e alguma incredulidade e ignorância por parte de
uns e o esforço analítico e sério por parte de outros tantos, o mundo continua
a dar cabeçadas em nome de alguma coisa que minimamente possa representar a
solidariedade, a melhor distribuição da riqueza acumulada, a paz entre os
povos. Nesse contexto reina a confusão entre homens e nações.
Aqui no Brasil, por exemplo, ao declarar a uma emissora de rádio gaúcha,
semanas atrás, que o deputado José Genoíno deveria renunciar a seu mandato, o
ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, do mesmo PT de Genoíno,
ofereceu de bandeja à oposição, em especial a seus pittbulls na mídia, o
pretexto para ampliar a execração da esquerda brasileira.
Outra coisa não fizeram alguns desqualificados jornalistas e comentaristas
políticos que, além de ironizar o fato, ainda relembraram um caso antigo que
envolveu o próprio governo Dutra no sul, citando o encontro de um seu
funcionário com bicheiros naquele estado que, supostamente, ajudavam a
financiar campanhas eleitorais.
Em outras palavras: Olívio Dutra, além de demonstrar inabilidade na
análise da conjuntura atual da política brasileira, deu munição àqueles que já
não sabem muito bem o que fazer com os dez anos de governo do Partido dos
Trabalhadores. Ou não sabem como conviver com o julgamento da AP 470, o maior e
mais ridículo julgamento político feito por um tribunal brasileiro em tempos de
democracia.
O tempo vai passando e, sobre isso, o jornalismo investigativo, o sério,
vai aos poucos desmontando a farsa do “mensalão”, deixando a oposição de
direita, de meia-direita, de centro ou mesmo de esquerda de calças na mão. Além
do livro A
privataria tucana, que mostra com provas irrefutáveis o verdadeiro ninho da
corrupção no Brasil contemporâneo, temos o trabalho do jornalista Raimundo
Pereira na revista Retrato
do Brasil e
agora o livro do jornalista Paulo Moreira Leite, A
outra história do mensalão(também da Geração Editorial), matérias da
revista CartaCapital e
do jornal Brasil
de Fato, além de inúmeros blogues, vão dando contornos à farsa
político/jurídico/midiática organizada pelos setores mais comprometidos com o
atraso em nosso país.
Do julgamento à renúncia do papa. O que deixa Deus sem seu representante
na terra por algumas semanas. Fui surpreendido, como milhões e milhões de
cidadãos, com a notícia da renúncia do papa Bento 16 e dei-me conta (não é a
primeira vez, claro) de que é tudo muito efêmero a nossa volta. Nada é muito
novo nas relações humanas. O mundo caminha a passos largos para tornar tudo
relativo e de pouca importância. Ou melhor, essa caminhada – ao que tudo indica
– tem a ver diretamente com o sistema econômico de cada época em que se vive e,
portanto, a que estamos submetidos.
O laicismo, desde sua definição e adoção na França, não tem passado de um
conceito apenas teórico, cuja prática deixou e deixa de existir com as diversas
interferências da religião na vida dos cidadãos e do estado. A fé continua a
ser um “produto” vendido nos grandes mercados mundiais da ingenuidade humana. O
que, apesar de não ser nenhuma novidade, contribui para confirmar uma zona
nebulosa da humanidade.
Por outro lado, o moderno sistema de comunicação social, tendo a seu
serviço emissoras de televisão privadas e estatais, jornais e revistas para os
mais variados gostos e ideologias, emissoras de rádio, internets, tuíteres,
feicibuquis, celulares, tabletes e mais algumas bugigangas da pós-modernidade,
afunda o ser humano numa cisterna de informações contraditórias, espalhando no
mais das vezes a confusão para dividir e reinar, para alongar a vida de um
capitalismo que já dá inúmeras mostras de esgotamento de seus principais
postulados. Nesse vendaval de informações e teorias, as várias religiões
espalhadas pelo mundo ainda tentam “vender” uma fé que já não consegue se
explicar. E, em meu modesto ponto de vista, que nunca se explicou. A história
das religiões é, antes de qualquer coisa, a história do próprio homem, de suas
virtudes e de seus defeitos. O homem é quem cria os deuses a sua imagem e
semelhança.
Termino por dizer que 21 de fevereiro de 1912 é também uma data
importante, pelo menos em meu calendário. Nesse dia, mês e ano nasceu Martha,
minha saudosa mãe, que morreu ainda jovem e não conheceu o computador, o celular,
o Genoíno, o Partido dos Trabalhadores, o papa Bento 16 e, com toda certeza,
nunca ouviu falar em Marx e Engels. E muito menos em Julian Assange e seu
WikiLeaks.
Aproveito, então, a data para sugerir a nossa ilustre visitante Yoani
Sanchez, brava defensora do direito de expressão dos grandes monopólios
mediáticos, que interceda junto ao governo norte-americano pela vida e pelo
direito de expressão do soldado Bradley Manning.
Izaías Almada é
escritor e dramaturgo. Autor da peça Uma questão de imagem (Prêmio
Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro Teatro
de Arena: Uma estética de resistência, Editora Boitempo.
A.
L.
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