Dois
conselheiros norte-americanos ligados às "guerras sujas" dos EUA na
América Latina estiveram no Iraque, durante a ocupação americana. Respondiam ao
ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld e ao general David Petraeus, acusa o
jornal britânico.
Soldados
iraquianos: os EUA sabiam da tortura nas prisões
O general norte-americano David Petraeus está a ser relacionado
por uma investigação do diário britânico The
Guardian e pela BBC Arabic a
centros de detenção e tortura no Iraque usados durante a invasão
norte-americana daquele país para tentar obter informações para controlar a
revolta sunita.
Estes centros, responsabilidade das forças
iraquianas, seriam supervisionados por dois conselheiros norte-americanos:
James Steele, um veterano das “guerras sujas” dos EUA na América Latina,
nomeadamente em El Salvador, que respondia directamente ao então secretário da
Defesa Donald Rumsfeld, e James Coffman, que respondia a Petraeus e um dia se
descreveu, numa entrevista, como “os olhos e os ouvidos” de Petraeus, então
comandante das forças no Iraque, no terreno.
O agora general na reserva David
Petraeus tinha sido enviado para o país em 2004 para treinar as forças de
segurança iraquianas e foi mais tarde director da CIA, cargo do qual se demitiu
em Novembro na sequência de um escândalo sexual.
Segundo o Guardian,
esta é a primeira vez que relatos quer de responsáveis iraquianos, quer de
responsáveis americanos, implicam conselheiros norte-americanos nos abusos
cometidos nos centros. E é também a primeira vez que Petraeus é relacionado com
os abusos nos centros de detenção, que o jornal descreve como “algumas das
piores acções de tortura durante a ocupação norte-americana e que aceleraram a
descida do país para a guerra civil”.
Steele e Coffman trabalhavam
juntos e sabiam de tudo o que se passava nos centros, diz o general iraquiano
Muntadher al-Samari, que colaborou com os dois americanos na preparação dos
centros durante um ano. “Nunca os vi separados das 40 ou 50 vezes em que estive
com eles. Vio-os dentro dos centros de detenção. Eles sabiam tudo o que se
passava lá. A tortura, os tipos mais horríveis de tortura”, diz. O objectivo da
tortura era conseguir informação sobre os insurrectos iraquianos.
A investigação do Guardian e a da BBC Arabic durou 15
meses e teve como ponto de partida documentos passados pelo soldado
norte-americano Bradley Manning à WikiLeaks. Estes mencionavam “centenas
de incidentes em que soldados norte-americanos encontravam detidos torturados
numa rede de centros de detenção geridos por comandados da polícia pelo Iraque”.
Um porta-voz de Petraeus, citado
pela revista online Salon, disse que o
general soube de alegações de forças iraquianas que torturavam detidos. “Em
cada incidente, ele partilhou informação imediatamente com a cadeia de comando
militar americana, o embaixador norte-americano em Bagdad, e os líderes
iraquianos relevantes”.
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