Gabriel Perissé
Crianças carentes, sem um lar adequado, sem uma escola
que as forme para a cidadania, estão à mercê da bandidagem e nela acabam
ingressando.
Quem previu o problema, no contexto carioca, foi Leonel
Brizola, nos anos 1980-1990. A operação de guerra a que agora estamos
assistindo no Rio de Janeiro é um aspecto dessa profecia que se cumpriu.
Empregar a violência para deter o crime é a outra ponta
de uma história que começa na ausência de um projeto educacional que ofereça às
crianças e aos jovens horizontes de inserção social, trabalho, dignidade. A
educação é, senão a única, uma inquestionável iniciativa pacificadora.
Não basta documentar e comemorar a derrota dos
traficantes, como a mídia tem feito nos últimos dias. É preciso lembrar e
lamentar a derrota social e política anterior, a nossa derrota, quando esses
bandidos ainda não eram bandidos, tinham entre 7 e 15 anos de idade, e
precisavam estar dentro da escola, recebendo (e também suas famílias) atenção
integral, abertura de caminhos melhores do que a "carreira"
criminosa.
Brizola, Darcy e
Anísio Teixeira
Nos seus tijolaços, matéria paga em grandes jornais (O
Globo, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense),
Brizola insistia em que a maior parte da criminalidade existente no Rio de
Janeiro era composta por jovens com menos de 18 anos de idade. Crianças e
adolescentes, na verdade, a serem atendidos por uma escola que superasse o
velho esquema dos insuficientes turnos de quatro horas.
Era preciso investir numa escola de tempo integral, na
qual o aluno passasse o dia inteiro, estudando (domínio da leitura, da escrita
e do cálculo, instrumentos fundamentais), pesquisando, se divertindo, com
animação cultural, com prática esportiva, com assistência médica, dentária e
higiênica. Tudo gratuito. Que o Estado pusesse em prática a visão educacional
de Anísio Teixeira —de uma escola pública, laica e obrigatória—, sob a
orientação de Darcy Ribeiro.
Como podemos
constatar neste vídeo, o
a antropólogo e sociólogo também fazia suas profecias. Darcy Ribeiro antevia o
Brasil como civilização cheia de promessas, uma nova Roma, em que os mestiços
brasileiros, recebendo educação humanizadora, e não um remendo qualquer,
desenvolveriam seus talentos e potencialidades.
O projeto educacional de Anísio/Darcy/Brizola foi
abertamente combatido por forças políticas representadas por Moreira Franco (em
1987) e Marcelo Alencar (em 1995), que sucederam a Brizola no governo do Rio.
Do ponto de vista da imprensa, O Globo celebrou o enterro da
escola popular brizolista, ao publicar, em maio de 2006, uma série de
reportagens sobre os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps):
""Vinte e um anos depois, as lições dos Cieps"". A
conclusão era uma só: foi tudo um grande fracasso. (Um fracasso desejado,
certamente.)
R. J.
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