CRISTINA CAMARGO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU
A Igreja Católica decidiu excomungar o padre de Bauru (a 329 km de São
Paulo) que havia se afastado de suas atividades religiosas neste final de
semana após declarações de apoio aos homossexuais.
A decisão da excomunhão foi divulgada pela Diocese de Bauru num
comunicado publicado em seu site. O texto é assinado pelo Conselho Presbiteral
Diocesano, formado por dez sacerdotes da cúpula do órgão.
Conhecido por contestar os princípios morais conservadores da Igreja
Católica, Roberto Francisco Daniel, 48, o padre Beto, realizou suas últimas
missas neste domingo (28), em duas igrejas que ficaram lotadas de fiéis em
clima de comoção.
Ele havia recebido prazo do bispo de Bauru, Caetano Ferrari, 70, para se
retratar e "confessar o erro" cometido em declarações divulgadas na
internet nas quais afirma que existe a possibilidade de amor entre pessoas do
mesmo sexo, inclusive por parte de bissexuais que mantêm casamentos
heterossexuais.
Beto também questiona dogmas católicos e chama a atenção pelo estilo.
Fora da igreja, usa piercing, anéis, camisetas com estampas
"roqueiras" ou com a imagem do guerrilheiro comunista Che Guevara e
frequenta choperias.
Mais de
mil pessoas lotaram igreja em Bauru no domingo de manhã para de despedir das
missas celebradas pelo Padre Beto
Após o ultimato, o religioso anunciou que iria se afastar de suas
funções religiosas, mas disse que considerava a hipótese de voltar um dia.
"Se refletir é um pecado, sempre fui e sempre serei um
pecador", afirmou. "Quem disse que um dogma não pode ser discutido?
Não consigo ser padre numa instituição que no momento não respeita a liberdade
de expressão e reflexão".
Nesta segunda-feira de manhã, ele tentou entregar o pedido de
afastamento, mas foi informado sobre a excomunhão.
No comunicado, a diocese afirma que "uma das obrigações do bispo
diocesano é defender a fé, a doutrina e a disciplina da igreja" e que, por
isso, o padre "não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino
(sacramentos e sacramentais, nem mais receber a santíssima eucaristia), pois
está excomungado".
O bispo convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico e o
nomeou como juiz instrutor para tratar a questão e aplicar a "Lei da
Igreja". A partir da decisão da excomunhão, o juiz instrutor iniciará os
procedimentos para a "demissão do estado clerical".
Ainda segundo o comunicado, o bispo tenta há muito tempo o diálogo para
"superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação".
Segundo a diocese, todas as iniciativas foram esgotadas. O juiz instrutor teria
tentando mais uma vez o diálogo com o padre, mas Beto reagiu agressivamente e
recusou a conversa, afirma a diocese.
Ainda segundo o comunicado, o padre "feriu a Igreja" ao fazer
as declarações e ao negar "obediência ao seu pastor", o que resulta
"no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone
1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a
estes delitos".
A assessoria de imprensa da diocese informou que após a decisão nenhum
pronunciamento será feito pelo bispo ou padres da diocese. O silêncio é uma
determinação do juiz instrutor do processo.
Ao lado de uma advogada, Padre Beto procurou um cartório para registrar
seu pedido de afastamento logo após ser informado sobre a excomunhão.
"Ainda bem que não tem fogueira", disse ao comentar de forma
irônica a decisão do bispo. Padre Beto afirmou ainda que a decisão não vai mudar
nada em sua vida, pois já havia decidido pelo afastamento da Igreja.
Veja a íntegra do comunicado da Diocese de Bauru:
É de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe.
Roberto Francisco Daniel que, em nome da "liberdade de expressão"
traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de
sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a
comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado
sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça
da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem
tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e
cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do
Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito
Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e
aplicar a "Lei da Igreja", visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel
recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última
vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria
Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na
presença de cinco membros do Conselho dos Presbíteros.
O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves
contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de
obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação
sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja
pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico
é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote
incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.
A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes,
o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele
criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do
"direito de liberdade de expressão" para atacar a Fé, na qual foi
batizado.
Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a
Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco
Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e
sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado.
A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a
"demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde
deverá vir o Decreto".
Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar "um ponto
final" nessa dolorosa história.
Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, "que nos
conduz", ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem
da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a
Igreja, que é "Mãe e Mestra".
Bauru, 29 de abril de 2013.
Por especial mandado do Bispo Diocesano, assinam os representantes do
Conselho Presbiteral Diocesano.
A.
L.
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