Cerca
de 2,5 milhões de documentos sobre contas secretas vazam, e a repercussão está
sendo mundial, mas não no Brasil.
Hoje [4/4] é um dia
glorioso para o jornalismo investigativo nacional. Um trabalho coletivo de jornalistas
investigativos começou a publicar, em escala mundial, 2,5 milhões de documentos
vazados sobre contas em paraísos fiscais.
Na origem dos vazamentos
está uma associação de repórteres baseada em Washington, o ICIJ, pelas iniciais em inglês:
International Consortium of Investigative Journalism.
O ICJI é uma espécie de
WikiLeaks. A diferença é que o WikiLeaks tem uma característica mais ativista,
e o ICJI é mais jornalístico. Seus integrantes, 82 espalhados pelo mundo, são
repórteres. O pessoal do WikiLeaks, a começar por Assange, é ativista.
Estão sendo examinados 250
mil documentos, e as repercussões já estão aí. Na França, um ex-ministro de
Hollande colocou a administração deste sob fogo quando se soube que ele tinha
uma conta secreta de €600 mil a Suíça, coisa que ele vinha negando desde que as
primeiras denúncias apareceram na mídia local.
Os vazamentos, segundo o
ICJI, alcançam 250 mil contas de pessoas físicas e jurídicas de 170 países. As
revelações estão sendo processadas.
É uma pena que o Brasil
esteja ausente deste grande banquete de jornalismo investigativo, mas não é
surpresa, dada a atitude deletéria que as corporações de mídia brasileira
adotam em relação a impostos. Neste campo, o interesse particular delas vence
amplamente o interesse público.
Entre os jornais que
firmaram parceria com o ICJI estão o Guardian,
o Le Monde e oWashington Post. Pesquisei, e não consegui encontrar
nenhum jornal brasileiro.
Porém, uma vez mais: é um
assunto de enorme interesse público. Evasão de impostos é, numa palavra,
corrupção.
Vale ler um trecho de um artigo
de hoje do Le Monde sobre o assunto.
“A exposição de casos
individuais, por mais aliciantes que sejam, não deve desviar a atenção da
questão de fundo: os paraísos fiscais são uma ameaça para a democracia. Minam o
Estado de Direito, apostando na ocultação. São um maná para os defraudadores de
todos os quadrantes. Promovem o desvio de recursos públicos, em Estados onde
imperam o suborno e a corrupção. Neste mundo de uma criatividade jurídica que
parece ilimitada, escondem-se valores colossais por trás de empresas de
fachada. Personalidades endinheiradas mantêm aí o equivalente ao PIB conjunto
dos Estados Unidos e do Japão.”
Até o momento em que
escrevo, 20 horas de Londres, não tinham sido divulgadas informações sobre
casos brasileiros.
Fatalmente isso ocorrerá.
Mas muito provavelm
T. M.
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